Título: Lula estréia reuniões com aliados pelo PTB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Política, p. A9

O PTB foi o primeiro partido aliado chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conversar sobre o segundo mandato. O partido teve o cuidado de não falar em cargos, mas Lula pediu apoio a votações no Congresso. Ouviu do líder na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), que a bancada está fechada em apoio ao presidente, apesar das resistências do presidente da legenda, Roberto Jefferson (RJ). Ao ser comunicado pelo próprio Múcio de que iria encontrar-se com Lula, Jefferson afirmou: "Eu sei irmão. Vai em paz".

Múcio afirmou que seria deselegante, neste momento, pleitear novos ministérios, além do Turismo, ocupado por Walfrido Mares Guia. Internamente, a legenda espera o primeiro painel de votações para medir exatamente o tamanho do apoio ao governo. Aos petebistas, Jefferson deixa clara sua postura de oposição, mas deu carta branca a Múcio para deliberar alianças com o Planalto. Prudente, o petebista esconde qual a real influência do presidente da legenda sobre a bancada.

O líder do PTB ouviu de Lula a promessa de que, a partir de janeiro, fará reuniões mensais com os líderes aliados. "Ele nos disse que deseja nos ouvir melhor. É bom afinar aqui os projetos que vão acabar desaguando no plenário", disse Múcio.

Se o PTB mantém a cautela, o PP anuncia para todos que pretende ser valorizado na mesma proporção do tamanho de sua bancada. Com 41 deputados eleitos, o PP comanda atualmente o Ministério das Cidades, com Márcio Fortes. "Queremos pelo menos mais uma ou duas pastas. Pode ser Minas e Energia, Transportes ou Integração Nacional", afirmou o líder da legenda na Câmara, Mário Negromonte (PP-BA). O líder baiano espera um convite para conversar com Lula. "Quando formos chamados, teremos a nossa lista de ministeriáveis pronta", assegurou.

O líder do Partido da República (PR), fruto da fusão entre o PL, o PTdoB e o Prona, Luciano Castro (RR), confirma que seu partido ainda não foi chamado para conversar. Mas brinca com uma citação bíblica. "Os últimos serão os primeiros, serão os escolhidos". Castro disse que a legenda não vai apresentar uma lista de cargos, mas aposta na avaliação de Lula em relação aos últimos quatro anos. "O PL foi a legenda que mais votou com o governo. O Alfredo Nascimento foi ministro dos Transportes e fez um excelente trabalho. É isso que será levado em conta", afirmou o líder partidário.

Enquanto os aliados se preparam para pleitear vaga no futuro ministério, Lula cobra projetos dos atuais integrantes do primeiro escalão. Ontem, o presidente reuniu-se com os ministros de Minas e Energia, Silas Rondeau, dos Transportes, Paulo Sérgio de Oliveira Passos, da Casa Civil, Dilma Rousseff e o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli. Conversou também com o ministro da Previdência, Nelson Machado. Segundo o porta-voz da Presidência, André Singer, Lula "pretende fixar metas de trabalho até o fim do ano".

Singer afirmou ainda que "não se surpreenderia se o presidente chamasse, ainda esta semana, representantes da oposição para um diálogo". Mas não confirmou um possível encontro de Lula com o governador reeleito de Minas, Aécio Neves. Ontem, o presidente encontrou-se com o pemedebista reeleito para o governo do Paraná, Roberto Requião e com o candidato derrotado ao governo da Paraíba, José Maranhão. Também foram ao Planalto o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto e a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), conhecida pela "dança da pizza" depois da absolvição do mensaleiro João Magno (PT-MG).

Durante a reunião entre os ministros e Lula, foram discutidos o andamento de obras de infra-estrutura do país: a BR 101 nos seus trechos Sul e Nordeste, vários gasodutos, além da Transnordestina e Norte-Sul. Não foram discutidas aquelas que ainda estão na fase de projeto, como as usinas hidrelétricas de Belo Monte, no rio Xingu e do Complexo do Madeira, no Rio Madeira. O presidente pediu que cada ministro consulte as pendências ambientais e jurídicas que impedem as obras.