Título: Sem confiar em Chávez, UE pede detalhes sobre adesão de Venezuela ao Mercosul
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2006, Brasil, p. A2

Negociadores da União Européia solicitaram ontem uma série de informações sobre a entrada da Venezuela no Mercosul. O país, presidido por Hugo Chávez, foi tema de boa parte das conversas entre delegados dos dois blocos. A reunião, que acontece no Rio e termina hoje, tenta ressuscitar a negociação para um acordo de livre comércio entre UE e Mercosul, travada desde outubro de 2004.

Os europeus queriam detalhes sobre o cronograma de adesão da Venezuela ao bloco. Negociadores sul-americanos explicaram que um grupo de trabalho terá mais seis meses para definir prazos, e que o processo de adesão só estará completo em 2010. Os discursos de Chávez - contrário a acordos de livre comércio - provocam desconfianças na Europa.

Para o diretor do departamento de negociações internacionais do Itamaraty, Regis Arslanian, os europeus estão interessados nas oportunidades de acesso ao mercado venezuelano, especialmente nos setores de serviço e investimento. "Eles começam a ver na Venezuela um mercado importante", disse. O vice-ministro para o Comércio da Venezuela, William Contreras, participou da reunião.

Os negociadores aproveitaram a reunião de ontem para tentar encontrar um caminho para destravar a negociação. Segundo o embaixador brasileiro, sul-americanos e europeus concordaram em alterar o procedimento da negociação. Em vez de trocar ofertas, os dois lados discutirão um "pacote", que incluirá agricultura, indústria, serviços e investimentos.

Com a mudança de procedimento, os negociadores querem evitar reduzir a ambição da negociação. Nas últimas trocas de ofertas por escrito, os dois lados entregaram propostas muito menos ambiciosas do que haviam mencionado oralmente. "Quando se chega à etapa final da negociação, é melhor pensar em formato de pacote", explica Arslanian.

Em março, o Mercosul sugeriu um "pacote" aos negociadores europeus. No documento, o bloco indica as cotas para 14 produtos agrícolas que deseja obter com a negociação: 300 mil toneladas para carne bovina, 250 mil toneladas para carne de frango, 200 mil toneladas de açúcar. O Mercosul também sinalizou flexibilidades em serviços financeiros e transporte marítimo.

Os europeus reclamaram que as flexibilidades dos sul-americanos ocupam apenas três linhas do documento e não apontam melhoras na proposta do setor automotivo. Já o Mercosul não ficou satisfeito com a resposta européia, entregue alguns meses depois. Os europeus dizem apenas que serão flexíveis, mas não indicam concretamente o que podem fazer em agricultura.

A delegação brasileira espera que a reunião de hoje seja útil para dar sinalizações mais concretas para as negociações. Se os europeus se movimentarem na área agrícola, o Mercosul também se compromete a detalhar sua proposta, diz Arslanian. Mais de 50 pessoas participaram ontem da reunião. Pelo Brasil, além do Itamaraty, estavam representantes dos ministérios da Fazenda, Desenvolvimento e Agricultura. Todos os países do Mercosul enviaram representantes.