Título: Ajuste fiscal e câmbio afetam PIB de 5% em 2005, diz CNI
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2006, Brasil, p. A3

A economia brasileira deve ter, em 2007, crescimento maior que o deste ano, mas não há sinais claros de que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) será próxima dos 5%, como espera o governo. Apesar da queda dos juros desde setembro de 2005, a contribuição do setor externo vem sendo negativa e os gastos públicos que estimulam renda e consumo deverão, por restrições fiscais, parar de crescer. Outro fator relevante é o nível de investimento, que também não aponta para expansão de 5% no ano que vem. A previsão é dos economistas Renato da Fonseca e Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Ontem, eles divulgaram números bastante positivos para vendas, emprego e horas trabalhadas na produção em setembro. Esperam que o quarto trimestre tenha desempenho tão bom quanto o do terceiro trimestre.

Na perspectiva da CNI, o PIB deve aumentar 2,9% neste ano. A entidade espera que a expansão do PIB da indústria fique em 3,5%. Segundo Fonseca, crescer 5% em 2007 seria repetir o desempenho de 2004 e isso depende do investimento. Disse que, por enquanto, os dados não vão nesse sentido. Dois anos atrás, havia forte demanda externa que elevou a quantidade das exportações em 18% e isso não está se repetindo. Naquele ano, a contribuição do setor externo para a variação de 4,9% do PIB foi de 1,1 ponto percentual. No primeiro semestre deste ano, essa contribuição foi negativa em 10%.

Também se mantém estável a taxa de investimento em relação ao PIB, em torno dos 19%. Os economistas da CNI alertaram que, para crescer muito mais que os atuais 3% previstos para este ano, é preciso investir muito mais. A taxa média de aumento do PIB entre 1996 e 2005 foi de apenas 2,2%. Descontado o crescimento populacional, essa expansão cai para 0,7%. "Nesse ritmo, o Brasil levaria cem anos para dobrar a renda per capita", disse Mol.

Apesar da perspectiva para 2007, os indicadores industriais de setembro fecham com números positivos o terceiro trimestre. As vendas foram 4,06% maiores que as de setembro de 2005. Na comparação com agosto deste ano, a variação foi de 1,82%, após ajustes sazonais. No acumulado de janeiro a setembro, as vendas da indústria tiveram ligeiro crescimento: 0,38%. Na comparação do terceiro trimestre com o período anterior, as vendas elevaram-se 1,9%.

Os economistas da CNI destacaram que as vendas do setor tiveram, no terceiro trimestre, ritmo de crescimento (1,9%) duas vezes maior que o do segundo trimestre (0,87%). "A situação vem melhorando, com recuperação gradual e crescimento da atividade, o que reflete em mais vendas e mais emprego", disse Fonseca. Na análise da CNI, a alta de vendas da indústria em setembro poderia ter sido maior, não fosse a valorização do real.

No indicador das horas trabalhadas na produção em setembro, a CNI informou que a variação em relação a setembro de 2005 foi de 1,94%. Na comparação com agosto deste ano, o aumento foi de apenas 0,2%. De janeiro a setembro, as horas trabalhadas tiveram elevação de 1,05%. O terceiro trimestre registrou, para esse indicador, variação de 1,51% na comparação com o período anterior.

Quanto ao emprego industrial em setembro, o aumento verificado foi de 2,68% em relação ao mesmo mês em 2005. Na comparação com agosto, o crescimento foi de 0,24%. No resultado acumulado desde janeiro, a elevação foi de 1,73%. Na comparação do emprego nos trimestres, o terceiro mostrou variação de 0,72% sobre o segundo. Fonseca alertou que o crescimento do emprego está ligado aos altos custos de demissão de pessoal e à forte heterogeneidade da indústria neste ano. O uso da capacidade instalada não preocupa. O indicador ficou em 81,9% em setembro, diante de 81,8% em agosto e 80,8% em setembro de 2005.