Título: Para PMDB, Roseana é da cota de Lula
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2006, Política, p. A6

Nos bastidores do PMDB, deputados da ala governista resistem à possibilidade de a senadora Roseana Sarney (MA), recém-saída do PFL, ser nomeada ministra na cota que deverá ser reservada à legenda no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo filiando-se ao PMDB. Para eles, ela poderia poderia ser nomeada ministra como escolha pessoal de Lula, e não como indicação partidária.

Esses deputados integram o grupo que trabalha pela união do partido em torno do apoio ao governo. Mas eles buscam maior equilíbrio entre as forças políticas da Câmara e do Senado. Defendem o fim da exclusividade do Senado na interlocução com o Palácio do Planalto, observada no primeiro mandato de Lula. Uma das idéias é não abrir mão de indicar o próximo presidente da Câmara, já que o PMDB elegeu a maior bancada da Casa (89 deputados). Outra tarefa é fortalecer os cargos institucionais da legenda, como o de líder da bancada, alvo de constantes disputas internas nos últimos anos, em geral influenciadas por senadores.

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP) - que apoiou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin à Presidência da República -, está conversando com deputados governistas que sugerem a convocação do Conselho Político do partido - instância superior à Comissão Executiva Nacional integrada por seus ex-presidentes, governadores e presidentes de diretórios regionais -, para discutir o papel do PMDB no segundo mandato Lula.

Temer espera um gesto do governo. "É preciso verificar a motivação do governo. Se pretender o PMDB por inteiro, aí a solução será reunir o conselho e verificar para onde o PMDB quer ir", disse. Segundo ele, o que se espera de Lula é uma manifestação com "certa formalidade, solenidade" e não declarações de intenção pela imprensa.

Para o deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), o conselho seria instância adequada para decidir se o partido participa de um governo de coalizão, se apóia o governo mantendo sua autonomia ou se fica contra o governo. "Se a decisão for pela coalizão, isso significa responsabilidades divididas. Sem coalizão, o governo tem que trocar votos. Com coalizão, não tem troca. Os votos têm que estar lá. O governo é seu", defende Diniz.

Na primeira gestão do petista, como a bancada da Câmara sempre esteve dividida, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e José Sarney (PMDB-AP) foram os interlocutores preferenciais do Planalto e tiveram papel preponderante nas indicações do partido para cargos no primeiro escalão do governo. Filha de Sarney, Roseana tem sido apontada como forte opção para compor o ministério de Lula e sua filiação ao PMDB é dada como praticamente certa.

Ainda que se filie à legenda, deputados dizem que ela não teria credenciais para representar a legenda. Seria, apenas, mais uma indicação pessoal de Sarney, responsável pela nomeação de Silas Rondeau para o Ministério de Minas e Energia. "Há uma insatisfação da Câmara com o Senado, que ficou privilegiado. Mas a culpa foi da bancada da Câmara, que não conseguiu união", afirmou Diniz.

No sentido de fortalecer a bancada da Câmara, um dos nomes mais cotados para o cargo de líder é Jader Barbalho (PA), que se transformou em espécie de conselheiro político de Lula e foi responsável pela eleição da senadora Ana Júlia (PT) para o governo do Pará. Os mais citados para a presidência da Câmara são Geddel Vieira Lima (BA), ex-líder e principal aliado de Jaques Wagner (PT) em sua campanha vitoriosa pelo governo da Bahia, e Eunício Guimarães (CE), ex-líder e ex-ministro de Lula. Temer, que já presidiu a Casa, também é apontado como uma solução para mostrar unidade do partido.

"Não fiz, nem pretendo fazer, nenhum movimento para viabilizar meu nome como candidato a presidente da Câmara. A eleição teria que partir do entendimento possível. E num entendimento pesa muito a posição do governo", disse Geddel.

Geddel viajou ontem para Barcelona, na Espanha, onde se encontrará com o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, para participar de uma feira de interesse da Bahia.