Título: Tucano apresentará emenda pelo voto distrital
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2006, Política, p. A6

O PSDB deve intensificar suas articulações para uma reforma política no próximo ano. Na primeira semana depois do início da nova legislatura, o deputado Arnaldo Madeira (SP) deve apresentar uma emenda constitucional instituindo o voto distrital puro, para vigência imediata.

Será uma mudança de curso na discussão da reforma política. A proposta em tramitação na Câmara, relatada pelo deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), institui o voto proporcional em lista fechada, com o apoio do PT. Até o momento, não há nenhuma emenda constitucional que preveja a troca do atual sistema de eleição pelo distrital.

Madeira reconhece que a tese não é consensual nem dentro do partido - o PSDB baiano, por exemplo, é contrário - mas acredita que a permanência da crise política pode colocar o tema em pauta. "Definir qual será o distrito e representar o voto minoritário são duas questões não equacionadas, mas o benefício de se reforçar a relação entre representante e representado compensa este custo".

Fora do âmbito tucano, o PT e os partidos governistas defendem o voto proporcional em lista fechada. O PFL é majoritariamente contra qualquer alteração no sistema eleitoral dos deputados. Para Madeira, "o sistema de eleição dos deputados é de longe o principal item de uma reforma, é o que põe em cheque a representatividade da classe política no Brasil. O sistema bicameral está destruído. Hoje, só o Senado legisla", comentou.

A reforma política, segundo o deputado, poderá ser uma forma do PSDB reagir à derrota que sofreu nas eleições presidenciais. Na visão de Madeira, ainda que o partido tenha recebido mais votos para a presidência do que em 2002, sofreu uma derrota mais completa este ano.

"O resultado de outubro foi particularmente duro para nós por não ter sido uma vitória do PT apenas no plano eleitoral, mas também no campo político e ideológico", afirmou, referindo-se à polêmica sobre as privatizações, que marcou a reta final da campanha. "Prevaleceu no eleitorado a defesa do intervencionismo estatal" lamentou.

Uma outra etapa da reação tucana imaginada pelo deputado é a realização de um congresso partidário em 2007, que mudasse o programa do partido. Neste Congresso, Fernando Henrique seria a influência decisiva, de acordo com Madeira, que já tratou do tema com o ex-presidente. "Dentro do PSDB, ele jogará cada vez mais o papel de ideólogo. Não há espaço para ele ocupar espaços na máquina partidária tradicional, assumindo a presidência da sigla", afirmou Madeira.