Título: Jobim tem lugar reservado em 2007
Autor: Romero, Cristiano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2006, Política, p. A7

Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, é hoje um nome considerado certo para o ministério do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cotado para assumir a Pasta da Justiça, que comandou no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim é referendado não só pelo PMDB, mas também pelos partidos que apóiam Lula.

A substituição do atual ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, por Jobim está entre as mudanças dadas como certas por assessores e interlocutores do presidente. Lula vem pensando no nome de Jobim desde meados de outubro, quando Thomaz Bastos anunciou que deixaria o cargo, ao fim do primeiro mandato.

Insatisfeito com o desempenho de ministros da área de infra-estrutura, Lula pretende fazer mudanças para destravar obras que estão paralisadas. Já confidenciou a alguns petistas próximos que está descontente com o desempenho da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Na sua avaliação, o Ibama, uma autarquia subordinada à Marina, tem sido moroso na concessão de licenças ambientais para projetos de construção de hidrelétricas.

Ontem, durante a primeira reunião de coordenação após o período de descanso que desfrutou na Bahia, Lula decidiu convocar Marina Silva e o presidente do Ibama, Marcus Luiz Barroso Barros, para um encontro. A reunião deve acontecer até sexta-feira e foi agendada para discutir as pendências jurídicas e ambientais que estariam impedindo a retomada do cronograma de grandes obras.

O presidente quer conversar também com os ministros dos Transportes, Paulo Sérgio Oliveira Passos, e de Minas e Energia, Silas Rondeau. A assessoria do Palácio do Planalto informou que o presidente não especificou nenhuma obra específica, mas o alvo são rodovias, ferrovias, portos e usinas hidrelétricas. Após uma avaliação concreta de como estão esses projetos, Lula deverá retomar a agenda de viagens aos Estados.

O presidente está irritado com o atraso de obras públicas. Já decidiu, por exemplo, trazer para a sua órbita, no segundo mandato, o comando dos Transportes. A idéia é nomear um ministro de sua estrita confiança para essa Pasta, hoje comandada pelo PL. Lula aposta nos investimentos em infra-estrutura para garantir crescimento econômico anual de 5% nos próximos quatro anos, anunciado durante a campanha eleitoral. "O presidente quer acompanhar de perto os ministérios com obras a realizar", conta um aliado de Lula.

Parte dessa nova postura do presidente é explicada por sua aproximação, nos últimos meses, com empresários pesos pesados, como os presidentes da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, e do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau. Os empresários têm mostrado a ele as dificuldades para investir no Brasil. Um dos gargalos está na infra-estrutura.

O presidente está conduzindo pessoalmente as conversas e negociações para a montagem de seu ministério. "Dessa vez, isso não será feito por delegação", informou um assessor, referindo-se às mudanças ministeriais conduzidas, em sua maioria, pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Lula pretende adiar ao máximo a escolha dos novos ministros. Só deverá anunciá-la em meados de dezembro. Ele deve se reunir ainda esta semana com os presidentes de partidos aliados e com alguns governadores eleitos. Hoje, vai se encontrar com o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB).

Na semana passada, a ministra Dilma Rousseff ligou para alguns ministros para solicitar que eles entregassem um pedido coletivo de demissão ao presidente. Argumentou que, dessa forma, Lula ficaria menos constrangido em comunicar o desligamento do governo. No dia seguinte, o primeiro a entregar a carta de demissão foi o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto. Fiel ao estilo "cumpridor de missões", o ministro acredita já ter cumprido seu papel no governo. Cotado para assumir o Desenvolvimento Agrário, Guedes afirmou a auxiliares que não aceitaria uma troca de posto. Por isso, entregou a carta.

No PP, ganhou força o nome do senador eleito Francisco Dornelles (RJ) para ocupar um ministério. A bancada de 42 deputados do partido quer um posto de destaque em troca do apoio ao governo. Dornelles tem conversado com o ex-ministro José Dirceu, que o ajudou a derrotar Jandira Feghali (PCdoB) no Rio.