Título: Após ágio, Bradesco lucra R$ 3,3 bi
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2006, Finanças, p. C1

Apesar de ter amortizado todo o estoque de ágio que possuía em carteira, o Bradesco ainda lucrou R$ 210 milhões no terceiro trimestre, acumulando R$ 3,351 bilhões em nove meses, graças às receitas de crédito e tarifas. Excluindo o efeito do ágio, o lucro líquido do banco foi de R$ 1,611 bilhão no terceiro trimestre, somando R$ 4,743 bilhões nos primeiros nove meses do ano, 17,1% a mais do que em igual período de 2005. O retorno sobre o patrimônio líquido médio ficou em 31,5% anualizados.

O Bradesco amortizou R$ 2,109 bilhões em ágio pago em aquisições passadas, como o American Express e Banco do Estado do Ceará (BEC), o que teve um impacto negativo, líquido dos efeitos fiscais, de R$ 1, 392 bilhão. A operação acarretou crédito tributário de R$ 717 milhões.

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, explicou que a amortização integral do ágio foi feita para permitir uma melhor compreensão dos resultados do banco; e esclareceu que a distribuição de dividendos não será afetada. O banco já pagou R$ 1,9 bilhão em dividendos e juros sobre o capital próprio neste ano, equivalente a 41% do lucro líquido, percentual superior aos 30% estabelecidos no estatuto. As ações preferenciais do Bradesco subiram 2,14% para R$ 78,70, ontem, dia em que a Bovespa teve alta de 2,01%.

O resultado também leva em conta que o Bradesco realizou uma provisão complementar para processos trabalhistas, no valor de R$ 309 milhões (R$ 204 milhões líquidos de imposto) de acordo com a Deliberação nº 489 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do final do ano passado, totalmente anulada por créditos tributários. A deliberação busca disciplinar as provisões constituídas pelas empresas a fim de ponderá-las conforme a possibilidade de ganho. Além disso, o banco informou ter atingido em setembro R$ 2,628 bilhões em lucros não realizados.

Foi sensível nos resultados o aumento da contribuição das operações de seguros de 30% para 33% entre os primeiros nove meses de 2005 e igual período deste ano; e da receita de serviços, de 25% para 26%. Já a receita de crédito ficou estável em 22% do resultado total. E a participação da receita de títulos e valores mobiliárias e das captações diminuiu de 13% para 11% e de 10% para 8%, respectivamente.

Os analistas da Merrill Lynch e da corretora Ativa ressaltaram o forte aumento das receitas de serviços, de 12,1% entre o segundo e o terceiro trimestre, para R$ 2,343 bilhões; e de 21,3% no acumulado em nove meses para R$ 6,474 bilhões. Segundo o Bradesco, a receita de serviços cresceu com o aumento das operações, crescimento da base de clientes (17 milhões) e consolidação do American Express, que agregou R$ 116 milhões à renda de R$ 288 milhões obtida com cartões. Com a conta corrente, o banco ganhou R$ 268 milhões; com as operações de crédito, R$ 191 milhões; e com a administração de fundos, R$ 163 milhões.

A margem financeira ajustada caiu 1,7% do segundo para o terceiro trimestre, para R$ 867 bilhões, mas aumentou no acumulado de nove meses 23,8% para R$ 14,793 bilhões, em comparação com igual período de 2005. Segundo o Bradesco, a margem financeira diminuiu pela redução dos ganhos de tesouraria em função do ajuste negativo da marcação a mercado de derivativos utilizados como hedge de risco de operações de crédito. A Merrill Lynch acrescentou o impacto da queda dos juros.

Para compensar a queda dos juros, o Bradesco está aumentando as operações de crédito. A carteira total, incluindo avais e fianças, cresceu 3,6% no trimestre e 27,8% sobre setembro de 2005 para R$ 110,296 bilhões. Excluindo avais e fianças, o crescimento foi de 3,8% no trimestre e de 22,3% no ano, para R$ 92,013 bilhões. O presidente do Bradesco manteve a previsão de ampliar o crédito em 25% neste ano. Já para 2007, a expectativa é de expansão menor, de 20%.

O principal motor do crescimento da carteira de crédito continua sendo as operações com pessoas físicas, que representam 42,2% do total em comparação com 40,7% em setembro de 2005. As operações de crédito para pessoas físicas cresceram 3,4% no terceiro trimestre e 27% em doze meses para R$ 38,834 bilhões em setembro; e a previsão do banco é fechar o ano com aumento de 30% a 35% dessas operações. "O último trimestre é sempre mais aquecido", disse Cypriano. O Bradesco tem capital para dobrar a carteira.

Somente o crédito pessoal cresceu 50,5% em doze meses para R$ 3,223 bilhões em setembro, puxado pelo aumento de 84,7% da produção própria de consignado em doze meses e de 9,2% no terceiro trimestre, para R$ 1,341 bilhão em setembro. Já a compra de crédito consignado de outros bancos caiu 7,1% no trimestre mas ainda cresceu 7,5% em doze meses para R$ 1,872 bilhão. "Estamos exercitando o crescimento orgânico. Os bancos médios que vendiam as carteiras estão buscando outras alternativas", disse Cypriano, como o funding no exterior ou com a securitização.

Outro destaque é o aumento de 4% no trimestre e de 25,6% em doze meses para R$ 27 bilhões do crédito para pequenas e médias empresas.

Cypriano se declarou tranqüilo com a qualidade da carteira. A inadimplência acima de 90 dias está em 3,4% desde junho (era 2,6% um ano antes). O banco considera isso normal pelo mix da carteira.