Título: Usiminas chega a acordo para Vale entrar no bloco de controle com 7%
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2006, Brasil, p. A2

A Usiminas anuncia esta semana a entrada da Vale do Rio Doce em seu bloco de controle. A mineradora passará a deter 7% de suas ações no grupo de comando. O novo grupo controlador será formado por cerca de 70% das ações ordinárias da empresa, ante 53% atualmente. Com isso, a Vale, que tem assento no conselho, poderá influenciar nas grandes decisões, porém sem poder de veto. Hoje, tem 23% de ações ON da empresa, mas está fora do bloco que manda.

A operação trará mudanças significativas na gestão da Usiminas, com entrada da Vale e a saída de vários investidores na estrutura de controle da empresa, hoje a maior produtora de aços planos da América Latina, com produção de 9 milhões de toneladas.

Dois grupos de acionistas saem fortalecidos nessa operação - de um lado os japoneses liderados pela Nippon Steel e do outro Camargo Corrêa e Votorantim, segundo apurou o Valor com fontes próximas das negociações.

Cada um deles ficará com mais de 20% - o da Nippon com cerca de 24% e o de Votorantim e Camargo em torno de 22% - de ações da siderúrgica no bloco controlador. Ambos terão plenos direitos de vetos nas decisões da companhia. São esses acionistas que darão as cartas na gestão da siderúrgica, que estuda construir uma nova usina, avaliada em mais de US$ 3 bilhões para ampliar a atual capacidade em 50%.

Um novo acordo de acionistas foi elaborado para abrigar a entrada da Vale no bloco. O atual, que venceria em 2013, no início deste ano foi prorrogado por mais dez anos, conforme informação obtida pelo Valor.

Pelos termos da negociação, que vinha sendo costurada há mais de um ano e teve seu passo decisivo em reunião na semana passada, a Vale venderá 5% de suas ações na Usiminas para Nippon Steel (de 1,7% a 2%), Camargo Corrêa (até 1,6%) e Votorantim (até 1,6%).

Atualmente, a Nippon é sócia por meio do consórcio Nippon Usiminas, dono de 19,4% de ações com direito a voto. Dessa fatia, a siderúrgica é dona de mais de dois terços - 14,4%, segundo informação do jornal japonês "Nihon Keizai". Compõem também o bloco japonês participações de acionistas da Rio Negro, distribuidora de aço - Mitsubishi, Metal One e família De Castro, que têm 1,25%.

Os grupos Camargo e Votorantim detêm atualmente, em conjunto, 15,2% (50% de cada um).

Os 11% restantes de ações da mineradora serão postos à venda no mercado, em uma operação a ser realizada conjuntamente com a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) e que deve movimentar bem mais de R$ 1 bilhão. A Previ detém 15% de ações da Usiminas e deverá desfazer-se de 3% a 5%.

A reestruturação na Usiminas, em uma primeira etapa, envolve a compra e venda de ações com valor de pelo menos R$ 1 bilhão. Começou com a saída do ABN Amro Bank no início do ano, que passou aos sócios seus 1,9%. Depois foi a vez do Bradesco - seus 2,6% foram para Camargo e Votorantim. A família Johannes Sleumer, dona da distribuidora de aço Fasal, também decidiu passar adiante 1,15%.

A Caixa dos Empregados da siderúrgica, que é detentora de 13,2%, também se desfará de parte de suas ações, devendo permanecer com cerca de 10% ao final de um certo período. Assim como a Vale, também não disporá de direitos de veto nas decisões. A perda de poder da Caixa foi dos um dos motivos da demora no fechamento do acordo. Ela resistia a isso.

A reorganização societária da Usiminas levará, no decorrer de 2007, à implementação de mudanças na gestão da companhia. O atual presidente, Rinaldo Campos Soares, tem 78 aos e está há 16 à frente da empresa. Ele deverá passar ao conselho de acionistas antes do fim de seu mandato, que vai até o início de 2008. Um executivo será contratado no mercado.

A Nippon, segundo o jornal japonês, também avalia ter uma participação na nova usina da Usiminas, que será decidida até o fim de 2007. Fonte ouvida pelo Valor informou que ela poderá ficar com 30% a 50% do projeto. A Vale já informou que não faz sentido ser sócia no projeto, como defende Soares, pois já é acionista da empresa.