Título: Senador goiano defende redução do peso de SP no PSDB
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2006, Política, p. A9

Eleito com a maior votação proporcional do país para o Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO) pede mais empenho do governo federal na aprovação da reforma tributária, exige mais esforço de seu partido na defesa do governo Fernando Henrique Cardoso e crê na necessidade de PFL e PSDB se manterem juntos na oposição. Perillo chega ao Congresso depois de governar Goiás por dois mandatos e pretende, ao lado do mineiro Aécio Neves e do cearense Tasso Jereissati, aumentar a parcela de poder dos não-paulistas dentro da legenda.

Com relação à parceria com os pefelistas, Marconi acredita na necessidade de haver uma reunião conjunta dos dois partidos nas próximas semanas. "Precisamos fazer uma auto-crítica de nossa atuação e nos organizarmos. Defendo que os partidos continuem juntos, trabalhando juntos. Até para estarem mais fortalecidos", disse Marconi, ao Valor. A manutenção da linha de atuação conjugada, segundo Marconi, deve ser feita com a atenção voltada às eleições de 2008 e 2010.

Embora apóie uma conversa com o governo federal para a aprovação de uma agenda programática, Marconi duvida da disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sentar-se com a oposição. Em seu primeiro discurso depois da vitória nas eleições, o presidente afirmou que conversaria com todos. "Primeiro, precisamos ver até que ponto o presidente Lula está sendo sincero. Na minha relação com o governo Lula, sempre percebi muito discurso mas pouca efetividade, pouco interesse em desarmar espíritos e deixar as armas no chão", afirma Marconi.

O ex-governador acusa o PT de distorcer a realidade nas críticas ao governo Fernando Henrique durante a campanha eleitoral. "O PT fez uma campanha desconhecendo os méritos do governo Fernando Henrique, procurando desqualificar as gestões tucanas criando uma dificuldade enorme daqui para a frente de se restabelecer um canal mais efetivo de diálogo permanente", avalia. Para o senador, Lula precisa apresentar uma agenda programática com propostas claras. O crescimento deve ser a tônica do segundo governo. "Todos esperamos uma agenda afirmativa que resulte em um crescimento para valer do país. Não adianta mascarar números e mentir que o Brasil cresceu. Os cenários econômicos no mundo tornaram o vento a favor do Brasil nesse tempo todo e o governo não soube aproveitar essa maré", diz. E acrescenta: "Tudo o que foi dito pelo PT na campanha sobre crescimento foi retórica, discurso, completamente dissociada da realidade".

Para Marconi, o governo precisa apontar alternativas ao programa Bolsa-Família. "Não bastam apenas programas assistencialistas. O brasileiro não precisa de esmola, precisa de oportunidade", diz o ex-governador.

Ainda no contexto das eleições, Marconi considerou "grave" o erro da campanha de Geraldo Alckmin de não orientar melhor o debate sobre o governo Fernando Henrique, ao qual Lula sempre quis colar o tucano. Para ele, o PSDB precisa "discutir a relação" com o ex-presidente. "O partido precisa ser mais solidário ao presidente Fernando Henrique e defendê-lo com mais convicção", exige. "Ele precisa ser valorizado pelo bem que fez pela economia e ao país. O Fernando Henrique não me envergonha. Ele me engrandece e engrandece o nosso partido", completa.

Essa discussão partidária tem de passar também, segundo Perillo, pelo alto poder nas mãos de paulistas dentro da legenda. Apesar de considerar o tema "perfumaria", Marconi diz que "São Paulo não pode ter culpa por ter em seus quadros pessoas notáveis". Mas pede oportunidades para tucanos de outras regiões. "Seria de bom tom se os próprios paulistas buscassem incluir definitivamente nessa agenda, com vistas a 2008 e 2010, tucanos de outras regiões", diz.

Perguntado sobre a sucessão de 2010, com os governadores de Minas Gerais, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, despontando como favoritos na escolha partidária, Marconi classifica esse debate como um "desserviço". "O PSDB precisa lamber e curar suas feridas ainda", opina. Para o senador eleito, esse debate tomou conta do período eleitoral e atrapalhou o desempenho de Alckmin. "A plantação de notas e notícias na imprensa com insinuações sobre o futuro do partido quando nem havia terminado a eleição. Não podemos apenas falar em unidade partidária mas também trabalhar pela unidade partidária, pelo bem do PSDB", afirma.

Outro erro apontado por Marconi foi a fraca defesa das privatizações. "O partido deveria ter assumido que fizemos a privatização, que privatizamos o que era importante. Mostrar os enormes benefícios", diz.

Marconi Perillo reivindica do governo federal uma reforma tributária mais eficiente. E concorda com a iniciativa de Aécio de colocar os governadores à frente do debate e negociarem com o Congresso, já que o governo federal não aprovou as alterações defendidas pelos estados. "O governo federal envolveu os governadores, que até assinaram a proposta de reforma tributária. Mas o governo federal tratou da parte dele e resolveu as questões da CPMF, Pis, Cofins, Cide. E deixou outra parte, do ICMS, para escanteio".

Para ele, o fundamental é a diminuição da carga tributária. "O governo se esqueceu da desoneração da economia. Toda e qualquer reforma tributária que deixa de considerar a relação dos impostos com o PIB não será uma reforma tributária que atenda aos interesses do setor produtivo e dos trabalhadores", completa.