Título: Real valorizado acentua queda no número de exportadores
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2006, Especial, p. A14

O câmbio valorizado vem acentuando a redução do número de exportadores. De janeiro a setembro, o governo contabilizou 15.428 empresas que realizaram vendas externas, o que mostra redução de 6,68% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2005, essa queda já tinha chamado a atenção dos analistas da balança comercial. Em dezembro do ano passado, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) registrou 17.657 empresas que embarcaram produtos, número 5,11% menor que o verificado um ano antes (18.608).

O diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lamenta o fracasso da tentativa de ampliar a base das exportações. Ele chama a atenção para o fato de, neste ano, a redução do número de empresas ter atingido a faixa de até US$ 1 milhão das vendas externas. Em 2005, esse efeito ocorreu até a faixa dos US$ 400 mil. "É uma clara conseqüência do câmbio valorizado que vem tirando o fôlego das pequenas e médias empresas. Isso é péssimo porque uma empresa que deixou de exportar terá de investir muito para recuperar o seu espaço e convencer clientes internacionais de que ainda é confiável", adverte Castro.

Perdendo exportadoras, a tendência das vendas externas é a concentração em poucas e grandes empresas, o que reduz o efeito de políticas públicas de comércio exterior. Outro fenômeno da balança comercial brasileira que preocupa Castro é a mudança do perfil das exportações para os Estados Unidos, com as commodities ocupando espaço maior. Essa mudança vem ocorrendo, segundo o diretor da AEB, porque o câmbio vem derrubando as exportações de manufaturados para os EUA.

Castro diz que o Brasil não pode abandonar politicamente o maior mercado do mundo, que importa US$ 1,7 trilhão. Mas, apesar da relevância econômica dos EUA, o diretor da AEB é pessimista com relação ao futuro dessa relação comercial. Isso porque há uma conjuntura de eleições para o Legislativo americano que congela alguns movimentos. Além disso, está próximo o fim da validade do mandato que o Congresso dá ao governo para negociar acordos internacionais. "Para piorar a situação, está mais difícil deixar uma porta aberta porque o quinto sócio pleno do Mercosul é a Venezuela, país que tem uma relação cada vez mais tensa com Washington", avalia.

Apesar desse cenário pouco otimista, os números da balança comercial em outubro foram positivos. Considerando as médias diárias desde janeiro, as exportações cresceram 17,3% e as importações aumentaram 25,1%. Nos primeiros dez meses deste ano, o saldo é de US$ 37,89 bilhões, a partir de vendas de US$ 113,37 bilhões e compras de US$ 75,48 bilhões. O secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, garante que a meta de exportações para este ano, de US$ 135 bilhões, será cumprida.

Em outubro, a média diária das importações alcançou US$ 416,4 milhões, o que é recorde para todos os meses. A maior marca era a de setembro, com US$ 406,1 milhões. Para o secretário, a tendência das importações é a de manter o ritmo deste ano, com destaque para o aumento percentual nas compras de bens de consumo, bens de capital e matérias-primas.

Com o aumento das exportações por vários anos seguidos, o crescimento relativo neste ano é menor. Essa é a comparação que Meziat ressalta entre os resultados da balança comercial neste ano e no ano passado. De janeiro a setembro, as quantidades embarcadas foram 3,7% maiores e os valores tiveram aumento de 11,9%. "Câmbio e outros problemas vêm impedindo um aumento das quantidades exportadas. Mas o valor vem crescendo e também há diversificação de produtos e destinos", pondera Meziat.