Título: Brasil e Bolívia discutem projetos de cooperação
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2006, Especial, p. A14

Uma semana após a assinatura dos contratos que consolidam a nacionalização, o Brasil já discute projetos de cooperação com a Bolívia, que dependerão, porém, dos resultados das negociações em torno do preço do gás e das refinarias da Petrobras. "Teremos cooperação, na medida em que tudo estiver fluindo positivamente", afirma o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Não pode ter cooperação de um lado e conflito de outro, e o caso do gás é muito grande para que não contamine o resto da relação", acrescenta.

Amorim começou, logo após a assinatura do acordo entre a Petrobras e o governo boliviano sobre a exploração de gás naquele país, a conversar, por telefone, com o ministro da presidência boliviana, Juan Ramón Quintana, sobre projetos comuns de cooperação. Os bolivianos querem comprar tratores do Brasil e atrair investimentos para construção de uma estrada no norte do país, que ligue a região com a rodovia Transoceânica, com saída pelo litoral peruano. O Brasil insiste em alertar o governo de Evo Morales para a necessidade de conduzir com cuidado questões como a reforma agrária.

A conversa com Quintana ocorreu antes da entrevista de Evo Morales, em que o presidente boliviano revelou ter preparado o envio de tropas aos campos de gás da Petrobras, para a eventualidade de impasse nas negociações. Para Amorim, isso não passou de "manifestação retórica, para consumo interno na Bolívia". Ele garante que anunciou às autoridades bolivianas a disposição de uma "reação com força" caso haja desrespeito aos direitos de brasileiros na Bolívia. "Se houver ação considerada imprópria, reagiremos com força", disse.

"Parece haver (no governo boliviano) a necessidade de fazer ou anunciar gestos espetaculares; o melhor é que não ocorram, e, neste caso, não ocorreram", diz o ministro, que considera "positivo" o acordo firmado pela Petrobras com o governo boliviano. Se a estatal considerar desaconselhável prosseguir investimentos no país, está livre para isso, afirma. "O governo nunca forçou a Petrobras a fazer nada; apenas ajudou a criar um contexto político para ter um resultado prático, bom para o consumidor brasileiro.".

"Foi entendido pelos dois lados: é preciso que haja contratos justos, que não sejam vistos na Bolívia como espoliação, mas que sejam econômica e financeiramente viáveis", comenta o ministro, que acredita haver "clima político" para que a Petrobras e a Bolívia cheguem a um bom acordo em torno da nacionalização das refinarias da empresa e do preço do gás fornecido ao Brasil. "Não acho que altere muito o fato de a Petrobras ser prestadora de serviços; há dezenas de prestadoras atuando na Arábia Saudita", raciocina. (SL)