Título: Usina de Angra 3 deve custar R$ 7 bi
Autor: Schüffner, Cláudia e Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2006, Empresas, p. B6

A disposição da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de construir a usina nuclear Angra 3, colocou em evidência os planos de ampliação da geração nuclear do Brasil, paralisados desde a conclusão de Angra 2, em 2000.

Segundo a Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear) serão necessários R$ 7 bilhões para conclusão de Angra 3. O valor é maior que os US$ 1,8 bilhão calculados em 2001, e foi corrigido devido à valorização do euro e do real frente ao dólar entre 2001 até dezembro 2005, segundo Leonan dos Santos Guimarães, chefe de gabinete da presidência da Eletronuclear.

O presidente da Eletrobrás, Aloísio Vasconcellos, também defende a conclusão da usina, ressaltando, contudo, que a decisão tem que de ser tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Ele espera que o tema seja debatido na próxima reunião. "Há uma mudança de clima mais recentemente e isto me leva a concluir que é possível, ainda não provável, que nas próximas duas reuniões ela seja aprovada."

Quanto aos recursos, o executivo disse que deve contar com esforço do orçamento conjunto de outras controladas do grupo. "Nós vamos fazer um pool, que terá Furnas, Chesf e quem tiver balanço positivo. E, claro, teremos uma participação forte do empresariado privado, mas não posso revelar quem tem interesse", disse.

Segundo a Eletronuclear, para construir unidades com capacidade de gerar 13 mil megawatts (MW) de fonte nuclear até 2035, serão necessários mais US$ 26 bilhões. O cálculo estima um custo de US$ 2 bilhões para cada mil MW instalado ao longo desses 30 anos. Angra 1 tem capacidade de gerar 657 MW, sendo menor que Angra 2, que pode gerar 1350 MW, mesmo tamanho projetado para Angra 3, para a qual já foram comprados equipamentos que custaram US$ 750 milhões e que estão guardados desde a década de 80.

O presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro da Silva, afirma que grande parte desses investimentos poderão ser realizados a partir da receita vinda da tarifa de energia, sem sobrecarregar as contas do governo. Como atrativo, a Eletronuclear fez um estudo de viabilidade segundo o qual a tarifa de Angra 3 ficaria em R$ 138,14. Com esse preço, e dada a necessidade de se ampliar a geração, Silva acha que "seria um contra-senso" ela não sair do papel.

Segundo ele, a quarta usina nuclear, apelidada de Nordeste 1 ou São Francisco na sede da estatal, poderá entrar logo na fila. "O Nordeste tem energia eólica, a gás e a óleo, mas lá tem urânio e está esgotado o potencial hidrelétrico. Por isso, é um candidato a ter usinas nucleares". Silva disse que as jazidas de Caetité (BA) e Santa Quitéria (CE) possuem energia equivalente a 238 anos de gás natural no atual volume de fornecimento do gasoduto Bolívia-Brasil (30 milhões de metros cúbicos/dia). (Colaborou Maurício Capela)