Título: Mercosul pode melhorar oferta, diz negociador
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Brasil, p. A3

Se os europeus estiverem dispostos a abrir seu mercado agrícola, o Mercosul está preparado para melhorar suas ofertas no setor automotivo e em serviços. "Estaremos prontos para detalhar e explicar nossa oferta. Temos os números", diz o embaixador Régis Arslanian, chefe do departamento de negociações internacionais do Itamaraty.

Negociadores do Mercosul e da União Européia se reúnem segunda e terça-feira no Rio de Janeiro para tentar retomar as negociações entre os dois blocos, congeladas desde o final de 2004. "Mas queremos uma sinalização concreta do que a UE tem para oferecer em agricultura. É o básico dessa reunião", diz Arslanian. Ele reclama que os europeus costumam apenas afirmar que tem "flexibilidade" na área agrícola sem dar detalhes.

Na última segunda-feira, os negociadores dos países membros do Mercosul se reuniram para acertar sua posição. No setor de serviços, o bloco poderá melhorar sua proposta em serviços financeiros e transporte marítimo. Segundo fontes envolvidas no processo, o Brasil também preparou uma nova oferta no setor automotivo em conjunto com o setor privado. O país poderá incluir um maior número de autopeças no acordo, aumentar o tamanho da cota para entrada de veículos com tarifa zero e reduzir o tempo para a liberalização do comércio.

A oferta automotiva do Mercosul que está atualmente na mesa de negociação é considerada muito ruim pelos europeus e até pelo setor privado brasileiro. A falta de ambição é conseqüência do protecionismo do governo argentino. Por essa oferta, o comércio entre UE e Mercosul só seria liberado em 18 anos e a cota de veículos para entrada com tarifa zero seria de apenas 25 mil.

Em março desse ano, os negociadores sul-americanos entregaram aos europeus um documento com os elementos gerais para um possível acordo. No documento pedem cotas para produtos agrícolas: 300 mil toneladas para carne bovina, 250 mil toneladas para carne de frango, 1 milhão de toneladas para etanol, entre outros produtos.

Os europeus reclamaram que o documento não dá indicações concretas sobre uma melhor oferta no setor automotivo e que se limita a informar que o bloco tem flexibilidades nos "períodos de transição" e no "percentual de cobertura do comércio".

Segundo Arslanian, "nada será feito por escrito" na reunião da próxima semana e não haverá troca formal de ofertas. A sinalizações devem ser verbais. O negociador brasileiro espera que a reunião sirva para alcançar um "pacote negociador", que esclareça as flexibilidades de cada lado da negociação.

Para os negociadores do Mercosul, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, deu uma sinalização positiva para o acordo ao apresentar a futura estratégia comercial européia. Na ocasião, ele disse que quer buscar acordos bilaterais. "Como houve a suspensão das negociações da OMC, espero que os europeus estejam prontos", diz Arslanian.

Desanimado com a paralização das negociações com a UE por dois anos, o setor privado não está otimista. A Coalizão Empresarial Brasileira (CEB) desistiu de montar uma "sala ao lado", para acompanhar as conversas como é de praxe nesses encontros. Os negociadores brasileiros se reuniram com o empresariado na semana passada e a conclusão foi de que não havia "fato novo".