Título: Eleição é túnel do tempo para a Guerra Fria
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Internacional, p. A7

As eleições da Nicarágua trouxeram de volta ao noticiário personagens que ganharam notoriedade nos anos finais da Guerra Fria. Um dos mais memoráveis é o coronel reformado Oliver North, que foi assessor da Casa Branca no início dos anos 80, durante o governo Ronald Reagan.

North, que hoje é um conservador comentarista de TV, esteve no centro da controversa operação Irã-Contras, na qual o governo dos EUA canalizou secretamente recursos da venda ilegal de armas ao Irã para financiar os Contras da Nicarágua. Em outubro, o coronel visitou Manágua e exortou os nicaragüenses a não votar no ex-líder rebelde.

No governo Bush estão pelo menos outras duas figuras que participaram do escândalo que quase derrubou Reagan: Elliot Abrams, então subsecretário de Estado, e John Negroponte, então embaixador em Honduras, país que serviu de base para os Contras.

Na Nicarágua, além do próprio Ortega, outro personagem daqueles anos turbulentos que as eleições trouxeram à tona é Éden Pastora, inicialmente participante da revolução sandinista e depois líder dos Contras.

Em agosto de 1978, sob codinome Comandante Zero, Pastora tomou de assalto o Palácio Nacional e fez cerca de 2 mil pessoas reféns. A ação espetacular virou notícia no mundo todo, golpeou o moral da Guarda Nacional e deu força para a insurreição armada. Onze meses depois, o ditador Anastásio Somoza abandonava o país. Supostamente desiludido com o governo sandinista, ele organizou os Contras. Pastora também é candidato à Presidência. Segundo pesquisas, teria em torno de 1% dos votos.