Título: Juro real cai a 8,55% e renova recorde
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Finanças, p. C1

O juro real projetado para 12 meses caiu para 8,55%, igualando-se ao recorde histórico estabelecido em 13 de janeiro de 2004. Só que, naquela época, resultava da diferença entre uma taxa nominal de 15% e de uma expectativa de IPCA de 5,94%. Agora, os dois parâmetros estão muito mais baixos. No mercado futuro, o juro do swap de 360 dias recuou quarta-feira de 13% para 12,95%. E a estimativa de IPCA está em 4,05%, segundo a mediana das projeções do boletim Focus do Banco Central.

O juro real projetado é, entre os vários critérios de aferição do custo real do dinheiro, o mais utilizado pelo mercado financeiro. E também pelo BC. Trata-se de uma referência para as decisões de investimento das empresas. Tecnicamente, é chamado de ex-ante. "É este o juro real que mais afeta o canal de investimentos. O que o empresário quer saber é se o investimento poderá render mais que a sua aplicação financeira. A partir daí, toma a decisão", diz o economista-chefe da Grau Gestão de Ativos, Pedro Paulo B. da Silveira.

Em queda acelerada, o juro real ex-ante mostra que a política monetária do Copom goza de muita credibilidade. Se houvesse alguma suspeita de que algo poderia dar errado no segundo mandato de Lula, o swap de 360 dias, que embute a perspectiva de continuidade da queda da taxa Selic, iria parar de cair. Apenas em outubro, a taxa do swap de um ano caiu de 13,55% para 13%. No acumulado do ano, cedeu 3,45 pontos, de 16,40% para 12,95%.

O ex-ante é o juro real que melhor responde aos estímulos de baixa exercidos pela flexibilização da política monetária. De setembro de 2005, quando o Copom iniciou o ciclo de cortes da Selic, até agora a Selic já caiu seis pontos percentuais, de 19,75% para 13,75%. No mesmo período, o juro real projetado recuou de 12,65% para 8,55%. Já o juro real ex-post (taxa efetiva 12 meses atrás) declinou muito menos, de 12,70% para 10,21% (ver mais na coluna Por Dentro do Mercado, na página C2). O terceiro tipo de juro real utilizado pelo mercado - pega-se a Selic atual, 13,75%, e compara-se com a expectativa de IPCA, de 4,05% -, informa taxa de 9,3%, a maior do mundo. Mas mesmo pelo critério ex-ante, o Brasil ainda detém a liderança.

O economista-chefe da UP Trend, Jason Vieira, diz que o juro real projetado para um ano é uma das variáveis observadas pelos empresários na hora da decisão de investir no aumento da capacidade de produção.

Outra é a expectativa de crescimento da demanda lá na frente. Ou seja, o ambiente não pode estar contaminado pela visão de restrições monetárias futuras ao consumo da sociedade. Mas enquanto piso referencial para crédito, mesmo a 8,55%, a taxa ainda é desestimulante.

O swap de 360 dias acompanha os movimentos de baixa da taxa Selic, tendo a missão adicional de projetar os que ocorrerão no futuro. E a outra face do cálculo do juro real - a projeção de IPCA - também reflete os efeitos da política monetária. Muitos analistas lembram que o ex-ante é tão importante que, em abril deste ano, o BC relutou em chancelar a queda da taxa para o patamar de um dígito.

Em 18 de abril, véspera de reunião do Copom, o juro real caiu a 9,98%. No dia seguinte, o BC reduziu a Selic de 16,50% para 15,75%, mas sinalizou a intenção de diminuir o ritmo da queda de 0,75 ponto para 0,50 ponto. Foi o que efetivamente ocorreu. Mas só a sinalização foi suficiente para elevar o juro real, no dia 20, para 10,03%.