Título: Gerdau dobrará fatia de mercado na Argentina se comprar Bragado
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Empresas, p. B5

O grupo Gerdau está finalizando os acordos para comprar a segunda maior siderúrgica de aços longos da Argentina, a Aceros Bragado. O negócio, avaliado em US$ 150 milhões, dará à Gerdau 42% do mercado de aços longos e perfis, usados na construção civil. Com isso, praticamente toda a produção argentina desse tipo de aço passa para às mãos de estrangeiros.

A maior siderúrgica de longos do país, a Acindar, que tem 55% do mercado, foi comprada pela Belgo-Mineira há quatro anos, e agora pertence ao grupo Arcelor Mittal, controlador da Belgo. A Gerdau, que em 1998 comprou a Sipar Aceros, tinha 20% e com a aquisição da Bragado, fica com 42%. Restou uma única usina de capital argentino nesse segmento, a Altos Hornos Zapla, do grupo Taselli, e que tem apenas 3% de participação. Na área de aços planos, voltados para os setores automotivo e de linha branca, a maior do país é a Siderar, que pertence ao grupo local Techint.

Há muitos anos a Gerdau tinha interesse na Bragado e negociava com a família Piero, dona da empresa. Na terça-feira, o presidente do grupo, Jorge Gerdau Johannpeter confirmou as negociações, em uma entrevista à imprensa durante o 47ª Congresso do Instituto Latino-americano de Ferro e Aço (Ilafa), em Santiago, Chile. "Estamos trabalhando para concretizar essa operação, mas agora depende da família", afirmou Johannpeter, segundo o jornal La Nación.

Procurado ontem pelo Valor, um funcionário da Bragado disse que o diretor da área institucional, único que poderia falar pela empresa, não estava disponível. O grupo Gerdau divulgou uma sucinta nota informando apenas que "confirma o interesse em se associar à AcerBrag na Argentina". Diz ainda que "essa é uma alternativa de investimento que está em análise e não há nenhuma decisão tomada até o momento".

Mas segundo fontes próximas à negociação, a operação já está fechada e prestes a ser anunciada. A família Piero - que também é proprietária de uma indústria de colchões muito conhecida no país e de uma petroquímica que fornece matéria-prima para colchões - teria decidido a venda agora para dar fim a uma disputa sucessória dentro da família, aberta com a morte do fundador Alessandro del Piero, há um ano e meio.

A Bragado tem apenas uma fábrica, no município do mesmo nome que fica na província de Buenos Aires, a 210 km da capital. Faturou perto de US$ 150 milhões no ano passado com a produção e venda de cerca de 180 mil toneladas de aços (que inclui vergalhões), e emprega perto de 400 pessoas. Nos últimos dois anos recebeu investimentos de cerca de US$ 80 milhões em atualização tecnológica e saneamento de dívidas e ampliou sua capacidade para 300 mil toneladas. Nesse nível de produção, estima-se que seu faturamento vá quase dobrar este ano.

O consumo de aço na Argentina está batendo todos os recordes, impulsionado pelo forte crescimento da economia do país nos últimos três anos, com o Produto Interno Bruto avançando ao ritmo de 8% a 9% ao ano. Neste contexto, o setor da construção civil é um dos que mais cresce, cerca de 20% ao ano. Segundo levantamento produzido pela IES Consultores, de Buenos Aires, o consumo aparente do produto no país vem crescendo consistentemente desde a crise em 2002, atingindo 4,41 milhões de toneladas em 2005. Nos primeiros oito meses deste ano, o consumo total de aço atingiu 3.449 toneladas, 15,5% acima do registrado no mesmo período do ano passado.

Para atender à forte expansão do mercado interno, as siderúrgicas estão reduzindo exportações. Entre janeiro e agosto deste ano, foram exportadas 1,052 milhão de toneladas, quase 25% menos que no mesmo período de 2005. A produção total, de 3,7 milhões de toneladas, cresceu 4,8%. O restante da demanda é suprido com importações, que atingiu 1,066 milhão de toneladas em 2005.

A compra da Bragado faz parte da estratégia, já anunciada pelo Gerdau, de se consolidar como um dos líderes da siderurgia na América do Sul. O grupo, que tem 20% do mercado brasileiro, já é dono de 84% do mercado uruguaio, 51% do chileno e de 37% do colombiano.