Título: Quebra da produção deverá reduzir exportação de fumo
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Agronegócios, p. B10

A redução da safra 2005/06, aliada à menor qualidade da oferta em razão do clima desfavorável e à perda de competitividade no mercado internacional devido ao câmbio, deve provocar neste ano a primeira queda nas exportações brasileiras de fumo pelo menos desde 2003, de acordo com as estatísticas do Sindifumo, entidade que reúne indústrias do setor. Pelos números da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), a última retração nos embarques do produto aconteceu em 2000.

Conforme o presidente do Sindifumo, Iro Schünke, as vendas externas devem alcançar 550 mil toneladas em 2006, 10% menos que no ano passado. Se considerados os números da Afubra, a queda seria um pouco maior, de 12,6%. Mesmo assim, conforme Schünke, a receita proveniente das exportações deve manter-se em US$ 1,7 bilhão, porque algumas empresas conseguiram reajustar os preços - que, em média, atingiram US$ 2,71 por quilo em 2005 - para compensar a valorização do real em relação ao dólar. O Brasil é o maior exportador de fumo do mundo, e o segundo maior país produtor.

O cenário que agora aponta para o primeiro recuo dos embarques nos últimos anos começou a ser desenhado na safra 2003/04, quando o Brasil ocupou o espaço deixado pelo Zimbabwe no mercado internacional em decorrência dos conflitos políticos no país africano. A oportunidade motivou, naquele ciclo, um salto de 42% da produção brasileira, que superou 850 mil toneladas. As exportações, que em geral absorvem 85% da safra, ganharam fôlego em 2004 e subiram cerca de 25%, para o patamar de 590 mil toneladas (já descontada a quebra de 11% a 12% no processo de beneficiamento).

No ciclo seguinte, a colheita se manteve alta, ao redor de 840 mil toneladas, mas começaram a aparecer os problemas com o câmbio e com a qualidade originadas pela estiagem e pelo calor, apesar do pequeno crescimento das exportações, para pouco mais de 600 mil toneladas. Conseqüentemente, as indústrias negociaram a redução da produção, que na temporada 2005/06 desceu para cerca de 770 mil toneladas. Mas, ainda assim, as empresas se aproximam do fim deste ano com estoques superiores a 10% da última safra, o dobro do volume normal, explica Schünke.

Agora, com um novo aperto na safra que começou a ser colhida em outubro - e vai até março - e com a perda de um volume ainda não quantificado na região oeste do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, neste caso em função das geadas, a oferta deve ficar em 715 mil toneladas. Assim, se as empresas não "torrarem" os estoques no mercado internacional, as exportações tendem a cair novamente em 2007, conforme prevê o presidente do Sindifumo. "O problema é que o fumo brasileiro está caro para o padrão de qualidade".

O cenário também passou a afetar as 193 mil famílias de fumicultores concentradas nos três Estados do Sul. Entre o ciclo 2004/05 e o 2005/06, além da queda na produção, os preços médios recebidos da indústria caíram 4,3%, para R$ 4,24 o quilo, de acordo com o presidente da Afubra, Marcílio Drescher. O preço do fumo padrão BO1, o mais caro e que serve de referência para os demais, chegou a ser reajustado em 4%, mas o maior rigor aplicado pelas empresas na classificação dos produtos anulou o ganho, conforme o dirigente.

"Há alguns anos quase 80% da safra era paga pelo preço BO1, mas nos dois últimos essa proporção baixou para entre 15% e 20%", calcula Drescher. Com isso, os produtores, basicamente de pequeno porte, ficaram descapitalizados. Agora, eles estão pedindo que a indústria antecipe as compras de janeiro para dezembro para garantir a entrada de algum dinheiro. "Se não, aparecem os intermediários e compram a produção por qualquer preço", afirma o dirigente.

A Afubra e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetag-RS) já enviaram correspondência para o Sindifumo pedindo a antecipação das aquisições. Os representantes dos produtores também estão concluindo um levantamento de custos da atual safra para a nova rodada de negociação de preços, em dezembro, quando esperam conseguir fôlego novo, diz Drescher.

O presidente do Sindifumo informa, ainda, que repassou o pedido às indústrias e que agora elas estão "estudando" se antecipam ou não as compras. "Normalmente elas fazem isto em janeiro", reforça. Quanto às futuras negociações sobre preços, ele adianta que o cenário é de "estabilidade".