Título: Governo intervém para estabilizar os preços do arroz
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Agronegócios, p. B10

Símbolo da política de controle inflacionário do governo Lula, o arroz terá seus preços balizados por intervenção governamental nos próximos meses. Devido à oferta escassa, o valor pago ao produtor no Rio Grande do Sul (principal praça) aumentou 13% no mês de outubro, para R$ 24,50 a saca de 50 quilos. Na comparação com outubro de 2005, a alta é de 33%.

No varejo paulista, entre os dias 2 e 26 de outubro o pacote de 5 quilos subiu 6,2%, para R$ 6,34, conforme pesquisa do Procon-SP. Nos nove meses anteriores, o produto acumulava ganhos de 3%.

Apesar de pequena, a valorização foi suficiente para incomodar as indústrias, que solicitaram ao Ministério da Agricultura a desova de estoques públicos para contê-la e evitar repasses ao varejo. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os produtores têm 2 milhões de toneladas em estoque; o governo, 1,26 milhão. O volume total é suficiente para atender à demanda nacional por três meses. Não há dados sobre o estoque das indústrias.

O Brasil consome 13 milhões de toneladas de arroz por ano. Na safra 2005/06, a produção nacional caiu 12,5% para 11,58 milhões de toneladas e 58% do total foi colhido no Rio Grande do Sul. Em maio, auge da colheita, o excesso de oferta no Estado derrubou os preços.

A pedido dos produtores, o governo federal adquiriu 1 milhão de toneladas via Aquisição do Governo Federal (AGF). A medida provocou uma recuperação nos preços a partir de junho. "O governo pediu o apoio dos arrozeiros em retribuição a essa ajuda", diz Marco Aurélio Tavares, diretor da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

No dia 9, a Conab leiloará 60 mil toneladas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a um preço mínimo de R$ 26,20 por saca. "O setor entende que ainda não é necessário leiloar esses estoques. Mas o valor mínimo é mais alto que o praticado hoje e pode ser um bom referencial para o futuro", diz Tavares.

Segundo Paulo Morceli, analista da Conab, o primeiro leilão tem por objetivo testar o limite de preços para o mercado. "A partir do resultado deste leilão vamos definir a estratégia de preços e volumes para os próximos", afirma Morceli.

Tiago Sarmento Barata, analista da Safras&Mercado, observa que no Mato Grosso, onde a produção foi reduzida em 64%, o arroz que circula no mercado desde setembro vem dos estoques da Conab, que já leiloou 205 mil das 230 mil toneladas armazenadas na região.

"De modo geral, as indústrias precisam comprar e os produtores estão retraídos, esperando aumento de preços. Mas se o leilão da Conab vender pouco, é possível que eles reduzam o preço mínimo nos leilões seguintes", avalia Barata.

Para Tavares, da Federarroz, os preços tendem a aumentar, já que os estoques são suficientes para três meses de consumo e a colheita só começa em março. "A próxima safra será no máximo igual à de 2005/06. Os preços devem ficar acima de R$ 26,20, o que já ajuda o setor a melhorar um pouco a rentabilidade", afirma Tavares.

Além dos leilões do governo, as importações devem ajudar a "segurar" as cotações do arroz no país. Conforme dados da Secex, entre janeiro e setembro o país importou 400 mil toneladas de arroz base casca - 11% mais que em igual intervalo de 2005. A previsão da Conab para o ano é que as compras externas somem 700 mil.

"As importações podem aumentar agora porque os preços estão mais atraentes", afirma Simone Ramos, analista da Conab. Ela observa que Argentina e Uruguai conseguem colocar no Brasil arroz mais barato que o colhido no Rio Grande do Sul. No atacado paulista, a saca de 60 quilos de arroz importado chega a R$ 55, quando o produto nacional custa R$ 57,40, segundo dados da Bolsa de Cereais de São Paulo.