Título: O DF quer respostas
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 31/12/2010, Opinião, p. 12

Desafios inéditos na capital da República aguardam o novo governador. Agnelo Queiroz assume um poder traumatizado por sangria de cinco meses e posterior gerência-tampão que não correspondeu às expectativas dos brasilienses. A cidade está suja e maltratada. Lembra urbes que, esquecidas de Deus e dos homens, exibem a aparência do desamparo e abandono. Devolver a dignidade ao Distrito Federal, cortar as asas da corrupção, dar transparência às ações do Buriti e cumprir as promessas que o alçaram à chefia do Executivo exigem metas claras, comando firme e mobilização da equipe.

Saúde é a principal batalha. Como é a especialidade de Agnelo, haverá implacáveis e justas cobranças por resultados. Entre as urgências a serem atendidas, três sobressaem. Uma: informatizar o sistema, unificando o banco de dados dos pacientes da rede. Outra: equipar as unidades com profissionais qualificados. A última mas não menos importante: controlar o abastecimento de insumos e medicamentos nos hospitais.

A educação, outra frente nevrálgica, pede medidas urgentes capazes de prover o DF de profissionais sintonizados com o século 21. Impõe-se ensino em horário integral. A escola precisa se preparar para tornar-se não depósito de alunos, mas espaço de formação total de crianças e jovens. Impõe-se também oferecer colégios suficientes para abrigar a demanda represada. A rede pública convive com inaceitável deficit de 79 salas de aula, agravado por decisão judicial que obriga o GDF a demolir 17 escolas que, em condições precárias, se transformaram em fator de risco para os estudantes.

Uma das mais sérias preocupações da população é a segurança pública. O brasiliense perdeu a tranquilidade de dormir sem medo de ter a casa invadida ou andar pelas ruas sem o temor de tornar-se vítima de malfeitores. Inteligência, tecnologia e policiamento ostensivo devem constituir rotina no setor. Mais: urge, como prioridade da próxima gestão, o combate ao uso de drogas. É assustador o avanço do crack em quadras nobres de Brasília e nas cidades do DF. Prevenção, repressão e recuperação requerem tratamento especializado.

As obras que se espalham DF afora precisam bater ponto final. Muito dinheiro foi gasto para iniciar projetos como o Brasília Integrada, que preveem veículos leves sobre trilhos (VLT) e veículos leves sobre pneus (VLP). É preciso retomar também as iniciativas voltadas para o saneamento. Vale o exemplo do Águas do DF, que visa corrigir os problemas de erosão em Ceilândia e Taguatinga e de alagamentos, comuns em quadras da Asa Norte em época de chuva. Os condomínios não podem ser esquecidos. Um quarto da população espera resposta sobre o futuro de suas residências.

Desafios políticos espinhosos aguardam Agnelo. O desgaste provocado pelas revelações da Caixa de Pandora lhe aumentam sobremaneira a responsabilidade. Impõe-se recuperar a relação de respeito com o Ministério Público, abalada com as denúncias de corrupção envolvendo promotores de Justiça e a cúpula do Buriti. Não só. O governador tem de encontrar forma republicana de lidar com a Câmara Legislativa. Aqui, a gênese da corrupção é o promíscuo elo entre distritais e integrantes do governo. Membros dos dois poderes estabeleceram como rotina o balcão de negócios. O cidadão espera nunca mais ter de conviver com o degradante comércio. Com a palavra, Agnelo Queiroz.