Título: Aposta de risco
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, EU & Investimentos, p. D1

A assembléia para votar a reestruturação societária da Telemar, no dia 13, tem tudo para ser um dos maiores acontecimentos do mercado de capitais dos últimos anos. As recomendações para a Carteira Valor deste mês são um espelho da relevância do encontro e de como o mercado está dividido sobre qual será a decisão que os acionistas donos de ações preferenciais (PN, sem direito a voto) - os únicos que poderão, excepcionalmente, votar na assembléia - irão tomar. Entre as dez corretoras participantes da carteira, quatro colocam as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Telemar entre as suas cinco recomendações. São elas: BES Securities, Fator Corretora, Banif Investment Banking e Itaú Corretora. Junto com as ordinárias da CPFL Energia, os papéis da Telemar são os mais indicados, cada um com quatro recomendações.

O desempenho da Carteira Valor supera, com folga, o principal índice da bolsa brasileira. No ano, o portfólio rende 30,78% comparado com os 17,36% do Índice Bovespa. Em outubro, a carteira subiu 8,49%, ante 7,72% do Ibovespa.

Para este mês, Telemar e CPFL desbancaram as PNs da Vale do Rio Doce e da Petrobras que são sempre as mais indicadas para a carteira. Boa parte dos analistas considera que a relação de troca na operação prejudica os preferencialistas da Telemar. Eles irão receber apenas uma ação ordinária da nova empresa, a Oi Participações, enquanto os detentores de ONs da Telemar ficarão com 2,6 ações.

Os analistas concordam que a transação colocará a companhia num nível superior de governança corporativa. Mas dizem que a operação abre um precedente perigoso para que outras empresas tentem entrar no Novo Mercado com uma relação de troca de ações injusta para os preferencialistas.

O que os analistas divergem é sobre a probabilidade de o negócio ser aprovado na assembléia e o risco de ter, ou não, as ordinárias em carteira dependendo de qual for o resultado. Se a reestruturação for aprovada, as ONs devem subir pelo menos 20% em bolsa, como reflexo da relação de troca vantajosa para esses papéis, segundo cálculos de um dos analistas. No entanto, podem cair o mesmo percentual ou mais se o negócio for frustrado.

"Ter ou não a ação são apostas de risco nesse momento, achamos melhor ter e correr o risco de sofrer com a queda, mas com a oportunidade de aproveitar a alta caso a reestruturação saia do papel", disse o analista de uma das corretoras que prefere não ser identificado, até pela polêmica que esse assunto tem provocado, tanto por parte dos minoritários quanto pelo controlador.

Além do prêmio pela relação de troca, do aumento de liquidez com apenas uma classe de ação e da entrada no Novo Mercado, as ordinárias também ganham com a promessa de dividendos mais robustos para os próximos anos. A proposta é pagar R$ 3 bilhões de dividendos este ano e o mesmo valor em 2007. A partir de 2008, a empresa se compromete a pagar no mínimo 80% do fluxo de caixa livre da empresa.

Com esses números, o acionista deve receber só com dividendos cerca de 20% do valor da ação (conhecido como "dividend yield"). Esse percentual é maior que o "dividend yield" das empresas tradicionalmente conhecidas como boas distribuidoras de resultados, que é o caso da Telesp, com um indicador entre 14% e 15% ao ano.

Mesmo sem duvidar do potencial de valorização das ordinárias caso a operação saia, há quem prefira não indicar as ações pelo tom especulativo que ganharam. É o caso da corretora do Banco Real, que preferiu até tirar as ONs da Brasil Telecom das indicações. "O que acontecer com as ordinárias da Telemar vai acabar respingando nos papéis da Brasil Telecom", diz o analista Alex Pardellas.

A reestruturação, segundo Pardellas, amplia a participação do capital de terceiros dentro do capital da Telemar. Isso, pelos seus cálculos, representa aumento de 29% do valor da companhia como conseqüência da queda de seu custo de capital. Ele acredita que, com uma possível aprovação da operação, as ações ordinárias têm potencial para subir até R$ 109, o que representa uma alta de 70,8% sobre o fechamento de quarta-feira, de R$ 63,80. Mas se o negócio for frustrado, a queda pode ser na mesma magnitude.

As ONs da Telemar dividem o pódio das recomendações da Carteira Valor para novembro com as ONs da CPFL Energia. A companhia atua numa das melhores regiões, São Paulo, com o diferencial de ter uma das gestões mais profissionais do setor de energia elétrica, diz o chefe de análise da corretora Concórdia, Eduardo Kondo.

Recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) concedeu reajuste de 10,79% para a Piratininga - uma empresa do grupo -, muito acima da inflação. "Isso surpreendeu positivamente o mercado", disse Kondo. O lucro da CPFL no primeiro semestre foi 52,6% superior ao mesmo período de 2005. Além dos excelentes fundamentos, a ação está defasada em relação a outros papéis do setor elétrico, subindo no ano apenas 5,20%, ante 17,36% do Ibovespa. Para Kondo, as ações da CPFL têm potencial para valer R$ 49,73, o que representa uma chance de alta de 82,8% sobre a cotação atual.

Para a maioria das corretoras, o momento não é de investir nas ações da Vale ou Petrobras. No caso da mineradora, pela alta de 15,93% das ações em outubro. Já na petrolífera, existe receio de que o preço do petróleo continue caindo.