Título: Amorim nega crise após críticas de Chávez à integração
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2006, Brasil, p. A4

As duras críticas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, contra o Mercosul, a Comunidade Sul-Americana de Nações e o projeto de integração regional de infra-estrutura foram recebidos pelo governo brasileiro como mais uma manifestação da inflamada retórica e de impaciência do mandatário venezuelano.

No encerramento da reunião de presidentes da Comunidade Sul-Americana (Casa), Chávez classificou a própria comunidade e o Mercosul como "duas maquinarias que não servem para nada", reclamou da falta de propostas e rumos dos dirigentes sul-americanos e reiterou a oposição ao projeto de integração de infra-estrutura, conhecido como IIRSA.

"Até agora, a Venezuela tem concordado com as decisões no Mercosul, e o presidente Chávez assinou a declaração final da Comunidade Sul-Americana de Nações", minimizou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O descontentamento de Chávez é atribuído por Amorim à "impaciência" para ver resultados.

"Nós apoiamos algumas das idéias da Venezuela, como a de uma secretaria permanente para a Comunidade, mas isso é um processo que exige concordância de 12 países", disse. "Talvez, porque teve de esperar quatro eleições para chegar ao poder, o presidente Lula tenha outra compreensão do processo histórico, seja mais paciente", ironizou o ministro.

Amorim considerou que as críticas de Chávez contra a falta de resultados das ações dos governos na região foram respondidas pelo discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que listou os avanços de comércio, institucionais e políticos na integração sul-americana. Ele recusou-se a considerar um "incidente" a oposição entre os dois presidentes. Houve uma divergência de opiniões", resumiu.

No Itamaraty, avalia-se que as críticas de Chávez ao IIRSA refletem a preferência do venezuelano por um processo de integração comandado por empresas estatais, diferentemente do que vem ocorrendo, com a atuação de empresas privadas, sob patrocínio de instituições multilaterais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Corporação Andina de Fomento (CAF).

As declarações de Chávez indicam disposição de questionar algumas das principais propostas de sustentação da política externa brasileira para a região; mas, para os diplomatas brasileiros, foram apenas a repetição de discursos que o venezuelano costuma fazer a portas fechadas.

As repetidas queixas de Chávez, de que os presidentes não têm tempo de discutir seriamente as questões e se reúnem para a assinar documentos preparados pelos burocratas, poderão ter consequências, porém: o Itamaraty estuda mudar o formato das reuniões presidenciais, para permitir maior discussão entre os chefes de Estado sobre as questões comuns.