Título: Coordenação política tende a ficar com Viana
Autor: Romero, Cristiano e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2006, Política, p. A9

Viana é saudado por Garcia: "Ele vai assumir funções que o farão sentir saudades da época em que era governador"

Depois de semanas de suspense, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar, nos próximos dias, os primeiros nomes do ministério para o segundo mandato. Com a desistência de Sepúlveda Pertence, Tarso Genro, atual ministro das Relações Institucionais, deverá ser o novo ministro da Justiça, no lugar de Márcio Thomaz Bastos. Jorge Viana, governador do Acre (PT), é o mais cotado para assumir a coordenação política, em substituição a Genro.

O anúncio das novidades poderá ser feito ainda esta semana, segundo informaram ao Valor assessores graduados do governo. Antes de escolher Tarso Genro, o presidente Lula cogitou os nomes de Nelson Jobim, que comandou a Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, e José Sepúlveda Pertence, ministro do Supremo Tribunal Federal. Jobim foi descartado devido aos problemas que teve, durante sua gestão, com a corporação dos policiais federais.

Como julga ter conseguido pacificar a Polícia Federal (PF) na gestão de Thomaz Bastos, o governo acha melhor não criar arestas nessa área. Já se sabe, no entanto, que o atual diretor da PF, Paulo Lacerda, não permanecerá no cargo, uma vez que é homem da estrita confiança do atual ministro. Lula via também com apreço a idéia de nomear Sepúlveda Pertence para a Justiça, mas, nos últimos dias, o nome de Tarso Genro cresceu.

Nas reuniões internas, Genro confessou que gostaria de assumir o cargo, mas, num ato que agradou o Palácio do Planalto, manteve-se discreto nas últimas semanas, sem fazer campanha aberta pelo posto. Na semana passada, ficou fora de Brasília, em viagem à Itália. "Com Tarso, em vez de Pertence, o Ministério da Justiça terá maior centralidade política", explicou um colaborador de Lula.

Genro já mandou recados à equipe de Thomaz Bastos. Avisou que adotará uma linha de continuidade e solicitou a todos que permaneçam nos cargos. Pelo menos um assessor do atual ministro - o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg - deixará o governo porque recebeu convite para trabalhar na iniciativa privada (ele assumirá em 2007 a área de fusões e aquisições do banco Morgan Stanley).

O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, praticamente confirmou ontem que o governador Jorge Viana, cujo mandato termina no dia 31, será ministro. "Ele vai assumir funções que o farão sentir saudades da época em que era governador", brincou Garcia na abertura de reunião com governadores do PT. "Alguém tem dúvidas de que ele vai assumir um cargo de importância no próximo governo?" Vianna deve comandar a articulação política do governo. Tem a seu favor o fato de transitar bem na oposição, especialmente no PSDB. O aspecto negativo é ser originário de um Estado pouco expressivo do ponto de vista político e econômico.

As primeiras mexidas de Lula em sua equipe não param por aí. O presidente deve anunciar também o substituto de Waldir Pires no Ministério da Defesa. Nos últimos dias, surgiram rumores de que o embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Ronaldo Sardenberg, estaria cotado para a função, embora especule-se, também, que ele vá assumir, em 2007, a representação do Brasil em Havana.

O presidente confirmará, nos próximos dias, os ministros que não pretende desalojar no segundo mandato. São os casos de Dilma Rousseff (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência).

Para o restante do ministério, Lula não tem pressa. Vai esperar pelas eleições das presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. A estratégia é considerada arriscada. "Isso é perigoso porque o PMDB pode avançar sobre as Pastas dos outros partidos", comentou um aliado.

Mesmo dentro dos partidos aliados já começam a surgir fissuras por causa da demora de Lula em formar o ministério. Lula confidenciou que não gostaria de fazer muitas mudanças na equipe atual. No PSB, Ciro Gomes trabalhar pela permanência de Pedro Brito na Integração Nacional e Eduardo Campos, por Sérgio Rezende na Ciência e Tecnologia. Lideranças emergentes do partido, como o senador eleito Renato Casagrande (ES), não concordam com isso.