Título: Pequim precisa de ar puro na Olimpíada de 2008
Autor: Totti, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2006, Especial, p. A14

No dia 20 de novembro, os vôos no aeroporto de Pequim foram suspensos por três horas e interrompidas as estradas que dão acesso à capital chinesa. O índice de poluição chegou a 249 pontos, o suficiente para as autoridades recomendarem pelas TVs e rádios que a população ficasse em casa. Princípio de inverno, inversão térmica, e as nuvens baixas se cobrem de um colorido iodado, que não envolve só Pequim, mas toda a costa leste do país - à exceção de Dongguan. A qualidade do ar nessas regiões só melhorou no dia 25, com a chegada da chuva e dos primeiros flocos de neve.

A Administração Estatal de Proteção Ambiental (Sepa, na sigla em inglês) distribuiu nota revelando que, apesar dos esforços em contrário do governo, a poluição aumentou em algumas áreas durante os primeiros nove meses deste ano.

Um estudo da Sepa demonstra que, ao crescer mais de 10% no primeiro semestre sobre o mesmo período do ano passado, a China produziu também mais impurezas que foram contaminar a água dos rios (mais 3,7%) e emitiu mais 4,2% de dióxido sulfúrico na atmosfera.

O jornal em inglês "China Daily" fez um balanço da situação ambiental do país e apresentou o dado mais grave: a chuva ácida ainda afeta quase um terço do território chinês e, na província de Zhejiang, ao sul de Xangai, "foram ácidas praticamente todas as chuvas deste ano".

O jornal defende a tese de que a poluição não será totalmente controlada enquanto o país continuar a crescer no ritmo atual - minas de carvão, fábricas de papel, refinarias, processadoras de alimentos são as mais poluidoras -, mas dedicou severa crítica a governadores de províncias que deixam de fiscalizar o funcionamento das indústrias cuja instalação eles próprios aprovam.

Se a poluição se agravar, a China terá problemas em 2008, quando o país será a sede dos Jogos Olímpicos. A China quer não só melhorar sua performance nas pistas de atletismo e em todos os demais esportes, mas demonstrar também que seu desenvolvimento não é resultado de crimes contra a natureza.

Em Pequim, sede da Olimpíada, 3,9 mil ônibus e 30 mil táxis já foram substituídos, 17,9 milhões de árvores estão sendo plantadas e o carvão, usado no aquecimento, está celeremente dando lugar ao gás natural.

No mês dos Jogos, agosto de 2008, os carros de passeio e caminhões terão circulação restringida. Uma demonstração de que os automóveis são a principal razão do "fog" pequinês ocorreu no início de novembro, quando o governo recebeu a visita de dirigentes de 49 países africanos. Quatrocentos mil motoristas atenderam ao apelo de deixar o carro em casa. O céu ficou limpo. (PT)