Título: Corus pode ser alvo de novas ofertas
Autor: Adachi, Vanessa e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2006, Empresas, p. B1

Há expectativa de que a indiana Tata Steel eleve ainda nesta semana sua proposta de 500 pence por ação, anunciada domingo, para adquirir o controle da siderúrgica Corus, do Reino Unido. Ontem, a CSN cobriu esse lance ao oferecer 515 pence pela companhia anglo-holandesa, oitava maior fabricante de aço do mundo.

Segundo um analista, a CSN teria condições para mais uma rodada de elevação de preços, dependendo do novo patamar a ser fixado pelos indianos. Se a Tata oferecer em torno de 525 pence, a CSN poderia colocar nova oferta, entre 530 e 540. Mas se a Tata partir direto para um valor entre 540 e 550 pence, há sérias dúvidas sobre a capacidade da empresa brasileira de ir além. Nas últimas semanas, a Tata andou fazendo sondagens no mercado brasileiro para verificar a capacidade financeira da CSN.

Os indianos têm mais dinheiro para gastar, porém, as sinergias que têm a capturar da fusão com a Corus são bem menores do que as da CSN. A brasileira está no limite de sua capacidade financeira. "A empresa tem valor de mercado de US$ 8 bilhões e já pôs sobre a mesa oferta de US$ 10 bilhões", observa um banqueiro de investimentos.

Cálculos indicam que a CSN tem cerca de US$ 3 bilhões de sinergias a mais a gerar do que a Tata numa eventual compra da Corus. A Corus tem prejuízos fiscais acumulados e a CSN está em melhores condições de usá-los imediatamente. Poderia começar a enviar minério de ferro de Casa de Pedra de imediato para Corus e, com isso, ampliar expressivamente suas margens. A Tata não dispõe de excendente de ferro nos próximos anos.

Segundo pessoas próximas às negociações, ao elevar a oferta antes que a CSN formalizasse a sua, a Tata procurou acelerar o leilão de preços, forçando a CSN a queimar fichas mais rapidamente. "À Tata interessa que a assembléia de acionistas da Corus seja mantida para o dia 20, porque ela está mais estruturada e conta com apoio interno na Corus. Se o processo se arrastar, essa vantagem pode se perder", afirma uma fonte.

Para analistas, de 580 a 600 pence por ação pode ser o limite desta briga, ou US$ 11 bilhões. A Corus é o último grande ativo de aço da Europa, o que explica a disputa por ela, diz Ronaldo Valiño, sócio líder de mineração e siderurgia da PricewaterhouseCoopers. Se não tiver sucesso nessa "caçada", a CSN terá que buscar novamente o mercado dos EUA, onde perdeu o confronto pela Wheeling- Pittisburg.

Segundo especialistas, os EUA são "a bola da vez" da consolidação do setor. "Alguma coisa vai ocorrer lá, a consolidação no país não atingiu os moldes da Europa." Esse processo mal atingiu as usinas americanas, onde existiriam pelo menos duas jóias da coroa - US Steel, com valor estimado em US$ 9 bilhões, e Nucor, avaliada em US$ 20 bilhões.

Luiz Alberto Binz, da Geração Futura, teme que a CSN fique muito endividada na determinação de comprar a Corus. Segundo a CSN, durante conferência com analistas, ela estaria preparada para se alavancar em até 3 vezes sua dívida líquida/Lajida, considerado um nível alto pelas agências de classificação de risco. O limite tolerado por elas é de 2,3 vezes. "Num momento de dificuldades da siderurgia, a CSN poderá ter problemas, já que as margens de retorno de laminação no mercado europeu são bem menores que as dos emergentes."

Analistas elogiam a estratégia de compra da Corus, mas temem que a brasileira não tenha estrutura suficiente para segurar esta empresa gigante. "A questão não é só dinheiro", observa um analista. Para ele, a CSN tem um portfólio de investimentos programado muito diversificado, incluindo o projeto de Casa de Pedra e outra usina.

A CSN, além dos US$ 8 bilhões obtidos por uma subsidiária no exterior com os bancos Barclay"s, Goldman Sachs, ING e London Branch, conseguiu no Brasil com o UBS, Citibank e Citigroup US$ 2,5 bilhões. Obteve outra linha de US$ 650 milhões para "eventual uso para fluxo de caixa da Corus" e vai usar do próprio caixa de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões. A CSN também deve reativar seus planos para lançar um bônus de 30 anos. De acordo com a IFR Markets, poderá captar até US$ 2 bilhões.