Título: Suco tem forte queda na bolsa de NY
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2006, Agronegócios, p. B12

Depois de atingirem o maior patamar em quase 30 anos na quinta-feira, os preços do suco de laranja despencaram ontem na bolsa de Nova York, pressionados por novas previsões do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a produção da fruta da Flórida.

Os contratos futuros com vencimento em janeiro recuaram 975 pontos e fecharam a US$ 1,9840 por libra-peso, ao passo que os papéis para março do ano que vem - que ocupam atualmente a segunda posição de entrega naquele mercado - perderam 840 pontos e encerraram a sessão negociados a US$ 1,9825.

Os contratos de segunda posição são aqueles que normalmente têm maior liquidez, e, apesar da baixa de 4,06% observada ontem, eles ainda acumulam valorização de 62,57% este ano, de 54,28% em 12 meses e de 134,75% nos últimos dois anos, segundo cálculos do Valor Data.

Essa disparada reflete justamente as restrições de oferta de laranja na Flórida após os danos provocados por furacões em 2004 e 2005 - com reflexos até hoje nas relações entre indústrias e citricultores no Brasil em torno do reajuste de contratos de fornecimento.

Na semana passada, a expectativa de que o USDA pudesse traçar um cenário ainda mais pessimista em seu relatório divulgado ontem ajudou a elevar as cotações ao maior nível em 30 anos. Mas, como isso não aconteceu - muito pelo contrário -, veio o tombo e os preços voltaram ao patamar anterior, o maior em "apenas" 16 anos.

Conforme a nova estimativa do USDA, a Flórida produzirá 140 milhões de caixas de 40,8 quilos da fruta na safra atual, que termina em junho de 2007. Por causa de um clima um pouco mais favorável, o volume é 3,7% superior à previsão anterior do próprio órgão, ainda que seja 5,3% inferior ao do ciclo passado e o menor nos últimos 15 anos.

"Com um aumento de preços muito forte acima de US$ 2, o próprio consumidor americano e europeu pressiona. Até seis ou sete meses atrás, nesses mercados o varejo evitou reajustes, mas o repasse já começou", afirma Maurício Mendes, presidente da Agra FNP. Exemplo disso, cita, é que no porto de Roterdã, na Holanda - principal porta de entrada para o produto do Brasil (maior exportador mundial) na Europa - a tonelada tem permanecido relativamente estável em torno de US$ 2.550.

Ele concorda que, se nada de extraordinário acontecer, inclusive envolvendo a próxima safra de São Paulo - que reúne o maior parque citrícola do mundo -, as negociações tendem a permanecer nesse nível, pelo menos do que depender dos chamados "fundamentos" do mercado.

Mendes lembra que o principal concorrente do suco de laranja nos mercados dos países desenvolvimento, o suco de maçã, também está caro em virtude da menor oferta chinesa, e que a ação de especuladores nesse mercado segue forte. "Esses dois fatores ajudam a manter o preço do suco no elevado patamar em que está mesmo depois da queda [de ontem]. O preço continua excelente".