Título: Globalização amplia papel dos emergentes, diz o Bird
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2006, Internacional, p. A13

O avanço da integração da economia mundial dará aos países em desenvolvimento um papel preponderante nas próximas décadas e ajudará bilhões de pessoas a superar a pobreza. Mas o processo criará tensões sociais e riscos ambientais que exigirão atenção no mundo inteiro, diz o Banco Mundial (Bird) em seu relatório anual sobre as perspectivas econômicas globais, que será divulgado hoje.

O trabalho prevê que países como China e Índia seguirão crescendo nos próximos anos num passo mais acelerado que o das economias mais avançadas. Economistas do banco calculam que os países em desenvolvimento, que hoje geram 23% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, vão produzir 31% da riqueza do planeta em 2030.

As transformações que essa expansão provocará serão marcantes, diz o Bird. Em um quarto de século, chineses, mexicanos e turcos terão padrão de vida semelhante ao dos espanhóis. O número de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza, com menos de US$ 1 por dia, cairá pela metade, para pouco mais de 500 milhões.

O crescimento dos países em desenvolvimento fará emergir em lugares hoje considerados periféricos um exército de consumidores que os economistas do banco classificam como uma nova "classe média global". De acordo com os cálculos do Bird, a renda per capita média dos países em desenvolvimento, hoje correspondente a 16% da observada nos países mais ricos, será equivalente a 23% em 2030.

Na avaliação do banco, o comportamento dessas pessoas afetará o planeta de várias formas. Elas ampliarão a demanda mundial por produtos de qualidade, estimularão o turismo internacional e pressionarão os governos dos seus países a investir mais em educação e a adotar políticas econômicas cada vez mais favoráveis à abertura comercial.

Mas não haverá lugar para todo mundo nessa festa, como o relatório do Bird salienta. Suas projeções indicam que a África continuará atrasada na corrida do desenvolvimento e sugerem que o Brasil e seus vizinhos na América Latina continuarão sendo ultrapassados por nações como China e Índia, que têm crescido mais rápido.

Além disso, o banco diz que o avanço dos asiáticos no comércio mundial tornará mais aguda a pressão sobre o mercado de trabalho nos países que com eles competem, ampliando a distância que separa trabalhadores com pouca instrução dos mais qualificados e preparados para se adaptar a mudanças na economia global.

Na avaliação do Bird, esse fenômeno, que se tornou visível primeiro na indústria, ficará cada vez mais evidente no setor de serviços, visto como a principal fonte de dinamismo do comércio internacional nos próximos anos. Isso elevará a insegurança dos trabalhadores em várias atividades e alimentará os sentimentos protecionistas no mundo inteiro, diz o relatório.

Para o banco, seria um erro reagir ao avanço dos asiáticos erguendo barreiras comerciais ou criando subsídios para proteger empresas ameaçadas pela competição. "Políticas que aceitem a integração global, em vez de resistir a ela, vão assentar as fundações para o crescimento e a criação de empregos no futuro", afirma o relatório do Bird.

Segundo o Bird, incentivo à inovação, investimento em educação e na reciclagem da força de trabalho, e políticas de atração de investimentos estrangeiros serão mais úteis para os países que quiserem aproveitar as oportunidades que surgirão nas próximas décadas com o avanço da globalização.

O Bird também está preocupado com os efeitos da expansão dos países em desenvolvimento sobre o meio ambiente. Estima-se que a emissão de gases nocivos à atmosfera aumentará 50% até 2030 e poderá dobrar até 2050 se nada for feito, provocando a deterioração das condições de vida em várias regiões e ampliando os riscos de mudanças dramáticas no clima.

O relatório recomenda que governos e organizações internacionais envolvidas com o assunto se empenhem para buscar mecanismos de cooperação que atenuem o problema, como os sistemas de negociação de créditos de carbono que nos últimos anos começaram a operar em alguns países.

O Bird também teme o impacto que o avanço da globalização terá sobre peixes cujas espécies correm risco de extinção se continuarem sendo exploradas como atualmente. E o relatório alerta para os riscos que a maior integração dos países em desenvolvimento na economia internacional criam para a disseminação de doenças infecciosas perigosas como a gripe aviária e a síndrome respiratória aguda grave (sars, na sigla em inglês).