Título: Anarquistas atacam Atenas e Buenos Aires
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 31/12/2010, Mundo, p. 15

Bombas explodem diante de tribunal, na capital grega, e de embaixada, na Argentina

O telefone tocou na emissora de TV grega Alter às 7h38 (3h38 em Brasília). Do outro lado da linha, o interlocutor alertou que uma bomba explodiria diante do Tribunal de Primeira Instância de Atenas. Deu 40 minutos para que a área fosse esvaziada e informou inclusive o número da placa da motocicleta onde o artefato estava escondido. Quatro minutos depois do prazo estipulado, às 8h22, um barulho ensurdecedor e uma nuvem de fumaça foram os sinais de que a ameaça tinha sido cumprida. A explosão rompeu os vidros de várias janelas do local, situado próximo à região central da capital grega. Prédios das imediações também foram danificados. Ninguém ficou ferido. A polícia levou o alerta a sério e ordenou a retirada de todos os funcionários da Corte. De acordo com o site Athens News, a moto-bomba estava estacionada do outro lado da rua, em frente à porta do prédio. ¿Vários carros parados ali perto sofreram avarias¿, afirmou a reportagem.

¿Terroristas geralmente estão por trás de tais ataques¿, disse ao Correio o empresário ateniense Alexandros Georgiadis. ¿Ninguém assumiu a autoria do atentado, mas bombas por aqui não são tão raras, e os políticos se limitam a condenar as explosões¿, acrescentou, ao assumir que sente mais preocupação do que medo. De acordo com ele, a ordem pública na capital grega não é das melhores e a segurança ¿poderia ser melhor¿. Georgiadis contou não ter escutado o estrondo na manhã de ontem.

Uma hora antes, a 11,7 mil quilômetros de Atenas, um coquetel Molotov foi lançado contra a Embaixada da Grécia, em Buenos Aires, no sofisticado bairro de Recoleta. Os vidros da sede diplomática e de alguns prédios vizinhos sofreram estilhaços, mas também não houve feridos. Segundo a agência de notícias France-Presse, o porta-voz do governo grego, George Petalotis, condenou o ato, denunciando a ação dos que ¿buscam aterrorizar a democracia e os cidadãos¿ e prometendo levar à Justiça os autores das explosões.

Solidariedade Por e-mail, o italiano Marco Boschi ¿ autor de Criminologia do terrorismo anárquico-insurrecional e de O fenômeno terrorista subversivo na Europa e na América Latina ¿ atribuiu os ataques de ontem a um chamado de ¿solidariedade internacional¿ feito pela Conspiração das Células de Fogo, uma organização anarquista grega. ¿O apelo circulava pela internet desde 25 de novembro, aberto a todos os membros do mundo anarquista insurgente, especialmente na Europa e na América Latina¿, revelou Boschi, também professor da Universidade de Florença. Em 17 de janeiro, 15 membros presumíveis dessa facção serão julgados por uma série de atentados com pacotes-bomba enviados a embaixadas estrangeiras e a dirigentes de França, Alemanha e Itália. As autoridades da Grécia não descartam que as recentes ações sejam uma retaliação ao julgamento.

De acordo com Boschi, o terrorismo anárquico-insurreicional não funciona como uma organização real. ¿Ele é constituído por indivíduos e grupos geralmente isolados, que trabalham em `solidariedade¿, atacando alvos previamente atingidos por outros anarquistas¿, explica. O especialista afirma que a Conspiração das Células de Fogo inspirou-se na italiana Federação Anarquista Informal (FAL) e foi criada em 2008. ¿Há muitos contatos fortes entre militantes de Espanha, Itália, Grécia, Suíça, Argentina e Chile. Esses terroristas têm entre 20 e 30 anos, geralmente são homens dotados de um nível cultural médio ou universitário. Eles atuam individualmente ou em pequenos grupos, com material explosivo ou incendiário fabricado de forma artesanal, por meio de instruções repassadas pela própria internet¿, acrescenta o analista italiano.