Título: Planalto ainda busca solução para presidência do Senado
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2007, Política a, p. A10

Tendo mais a perder do que a ganhar com a saída de Renan Calheiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuda, mas não pretende assumir nenhuma operação de salvamento do aliado. O que está em jogo é a presidência do Senado. O Palácio do Planalto não tem uma solução madura e "confiável" para a sucessão de Renan. A oposição procura por um nome capaz de ganhar a eleição num plenário em que a maioria do governo é instável.

Lula age como Lula: com discrição, sem deixar rastros. Foi assim com todos os aliados enredados na teia de algum escândalo. Se Renan escapar, ainda terá um aliado na presidência da Casa. Se não sobreviver, não poderá ser acusado pela oposição de lançar a bóia de salvação para um senador acusado de aceitar ajuda de uma empreiteira para o pagamento de contas pessoais.

Lula se preocupa com a paralisia do Senado, provocada pela partidarização da crise com a decisão do Democratas de pedir o afastamento de Renan Calheiros. A avaliação do Planalto é que o objetivo real da oposição, com a radicalização, é o presidente da República. A pauta de votações do Senado, para o próximo semestre, é vital para o governo. Entre outras coisas, está a prorrogação da vigência da CPMF (o chamado imposto do cheque) e da Desvinculação das Receitas da União (DRU).

O dilema do Planalto é como interferir nesse processo. Lula não quer se meter diretamente, para não acirrar o argumento de "ingerência do Executivo no Legislativo". Mas sabe que não pode simplesmente lavar as mãos, como fez no caso dos aloprados do PT ou do trio José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken. "Naquela época tínhamos uma eleição, tudo poderia comprometer a imagem. Além disso, era PT, ficava mais fácil o descolamento".

No caso de Renan, ser do PMDB influi - o partido detém a maior bancada do Senado. Além do mais, ele preside uma Casa na qual o governo não tem maioria -ou tem vantagens circunstanciais. Um passo em falso pode provocar um desequilíbrio desnecessário, na visão do Planalto. Além disso, não há certeza de que, se Renan deixar o cargo, o governo terá outro aliado de peso para colocar no lugar. "Não há um nome confiável", afirmou um ministro do governo. A incerteza prolonga o desfecho da crise. "Eu não apostaria um centavo em um resultado para esse impasse. Não há como dizer se o Renan escapa ou se sobrevive", diz um ministro próximo de Lula.

A opção mais segura para o governo é José Sarney (PMDB-AP). Mas o ex-presidente está reticente. Ele não costuma entrar em disputa, e o PSDB já avisou que não aceitará nenhum Sarney na presidência da Casa. A crise desencadeada no Congresso com a Operação Navalha também pegou em cheio um aliado do senador, o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau. Sarney tem a expectativa de que a Polícia Federal isente Rondeau. As dificuldades de Sarney valem também para a filha, Roseana, que é líder do governo no Congresso.

Na tradição do Senado, a vaga de Renan é do PMDB, partido majoritário, mas na última eleição a oposição já lançou candidato. As opções no partido são rarefeitas. O líder no Senado, Romero Jucá (RR), teve de deixar o Ministério da Previdência e Assistência Social no rastro de um escândalo. Resta o líder - como é do costume do PMDB na hora de indicar seus candidatos a presidente -, Valdir Raupp, que é de um Estado pequeno, Rondônia, e sem maior expressão política.

O DEM afirma que o melhor para o partido seria a eleição de um nome do PMDB, de preferência alguém que não funcionasse como correia de transmissão do Palácio do Planalto. Nomes como o do senador Pedro Simon (RS) e mesmo do pedetista Jefferson Péres são sempre lembrados, mas não têm passagem no Senado. No caso de Simon, nem no PMDB. Nos últimos dias surgiu o nome do senador Jarbas Vasconcelos (PE), logo identificada como uma candidatura "barriga de aluguel" do PSDB.

O "patrono" da candidatura Jarbas seria o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que os tucanos, aliás, negam. A exemplo de Simon, Jarbas é uma voz dissidente na bancada de senadores e tem poucas chances no próprio PMDB. Mas, quando governador, consolidou uma sólida aliança com o então PFL, hoje DEM, de Pernambuco. DEM do senador Marco Maciel, um nome chaves na aliança PSDB-PFL que elegeu e reelegeu Fernando Henrique Cardoso. Na eleição de Renan, o candidato do DEM foi o líder José Agripino Maia (RN).

No quebra-cabeças do Senado, entra ainda a possibilidade de o PMDB ceder a vaga ao PT, o que desagrada a todos - o partido passaria a presidir as duas Casas do Congresso. E uma solução que só seria viável a partir de uma composição com Renan. Que, até agora, não mostra a menor disposição de negociar sua saída do cargo.