Título: PMDB veta nome de Casagrande para relatar caso
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2007, Política a, p. A10

A cúpula do PMDB vetou ontem o nome do senador Renato Casagrande (PSB-ES) para relator do Caso Renan Calheiros no Conselho de Ética. A tropa de choque pemedebista agiu nos bastidores para convencer o presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), a desconvidar o senador Casagrande, chamado para exercer a função menos de 24 horas antes.

O capixaba havia sido convidado para dar "transparência às investigações". Ontem, no fim da tarde, ele foi desconvidado pelo presidente do Conselho, que, segundo fontes ouvidas pelo Valor, sofreu pressão do presidente do Senado, Renan Calheiros, para fazer isso. Quintanilha ensaiou uma desculpa. Ele precisava, alegou, consultar a assessoria jurídica para saber se o Conselho de Ética pode ou não investigar Renan. "Não houve pressão", afirmou Quintanilha.

Não é o que pensa o relator do caso Renan por menos de um dia. Casagrande assegurou que estava disposto a assumir o cargo, rejeitado por senadores de vários partidos, constrangidos em apurar as denúncias de corrupção feitas contra o presidente do Senado. "Cabe a ele explicar o que aconteceu. Ele deve ter conversado com lideranças de seu partido ao longo do dia. Isso tudo está passando dos limites", criticou Casagrande.

O senador capixaba resolveu aceitar ser relator depois de uma consulta a integrantes de seu partido - o líder na Câmara, Márcio França (SP), e o deputado Ciro Gomes (CE). Avisou que pretendia fazer um trabalho "sério, independente", mesmo sendo Renan um dos principais integrantes da coalizão que dá sustentação ao governo Lula. Com o sinal verde do PSB, Casagrande começou um périplo. Ele protagonizou várias tentativas frustradas de comunicar a Quintanilha que aceitara o convite.

Quando finalmente o pemedebista atendeu a um telefonema de Casagrande, o presidente do Conselho informou que não precisaria mais de um relator. "Não sei o que houve. Só sei que o Senado hoje é o Conselho de Ética. Se o Conselho de Ética está desmoralizado, o Senado estará desmoralizado", atacou Casagrande. Quintanilha negou que tenha desconvidado o senador. Ele afirmou que não havia designado nenhum relator para o caso e considerou "lamentável" a avaliação de que estava sendo pivô de uma manobra. "Não admito que vocês pensem isso", afirmou.

O comando pemedebista reuniu-se na hora do almoço, na residência oficial de Renan. Lá, foi definida a estratégia para tirar Casagrande da relatoria. "Não há qualquer hipótese de o nome de Casagrande ser aceito", confirmou um pemedebista. O medo de Renan e seus aliados era a postura de independência do senador do PSB. Desde o início das apurações do Caso Renan, o senador capixaba tem dito que pretende investigar a fundo o caso, sem condenar ninguém mas também sem fazer "absolvições prematuras".

Os pemedebistas avaliaram que Quintanilha, ao convidar Casagrande, havia caído numa armadilha da oposição. Como o tucano Arthur Virgílio (PSDB-AM) - que acabou perdendo a disputa para o pemedebista para a presidência do Conselho - indicara o petista Aloizio Mercadante (PT-SP) para a relatoria, Quintanilha indicou Casagrande. "Ele não precisava ter indicado ninguém. Isso se faz depois", criticou um assessor do partido.

Com a trapalhada, a primeira idéia era formar um colegiado, composto por três relatores, para deixar Casagrande sem margem de ação. As outras duas vagas seriam ocupadas por um petista (possivelmente Fátima Cleide, de Rondônia) e um pemedebista (Gilvan Borges, do Amapá, ou Almeida Lima, de Sergipe). Como outras manobras que deram errado desde o início do caso, a estratégia foi abortada a partir da decisão de Quintanilha de desconvidar Casagrande.

Ao chegar ao Senado, depois de um almoço com aliados em sua residência, o Renan tentou desvencilhar-se do imbróglio. Afirmou que o problema do relator era do Conselho de Ética e negou que tenha vetado qualquer nome, especialmente o de Casagrande. "Eu nego absolutamente. Esse é um assunto que cabe apenas ao Conselho de Ética, não ao presidente do Senado. Apesar de o Conselho ser um órgão de assessoramento da Mesa do Senado, ele tem autonomia", sustentou Renan.