Título: Roriz faz discurso para plenário esvaziado
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2007, Política, p. A12

Com um discurso definido por colegas como "melodramático" e simulando choro, o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) subiu ontem à tribuna do Senado para tentar se defender das acusações de envolvimento em esquema de desvio de recursos públicos, investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal em operação denominada Aquarela. Falou por 40 minutos para um plenário esvaziado. A maioria preferiu assistir do gabinete. Falando mais para seu eleitorado do DF e não conseguiu convencer os colegas de sua inocência.

"Sempre procurei fazer o bem. Nunca derrubei o barraco de um pobre. Nunca demiti funcionário, por mais humilde que fosse. Como governador por 14 anos, não conheço o que é demissão de um funcionário. Dei leite e pão para crianças subnutridas, cestas básicas para quem passava fome, casa e moradia para quem morava nas favelas. Só pensava, dia e noite, em quem passava necessidade e fome", disse.

O P-SOL protocolou ontem na Secretaria da Mesa do Senado representação pedindo investigação de suposta quebra de decoro contra o ex-governador no Conselho de Ética - órgão envolvido numa seqüência de trapalhadas na investigação de denúncias contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Da tribuna, Roriz citou o caso de Renan. "A imprensa, quando quer, massacra, destrói. Vejam o que está acontecendo com o nosso amigo, presidente dessa Casa, senador Renan Calheiros. Será que é justa tanta maldade para com um homem que tem relevante trabalho prestado ao seu país e ao seu Estado?".

Renan não estava no plenário. Nem José Sarney (PMDB-AP), também citado. Entre os 13 senadores que assistiam ao discurso, apenas quatro eram do PMDB. Não foi falta de aviso. Roriz ligou aos colegas na véspera e consultou-os sobre a conveniência de falar. Foi aconselhado a dar sua versão.

Escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil do DF, com autorização judicial, registram conversa de Roriz com Tarcísio Franklin de Moura, ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), que aparentemente tratava da partilha de R$ 2,2 milhões em dinheiro vivo.

Roriz mostra preocupação com o local em que o recurso será dividido e Franklin sugere que a operação seja feita no escritório de Nenê Constantino, presidente do conselho administrativo da Gol. A história é complicada porque os R$ 2,2 milhões foram sacados do BRB, mas era um cheque do Banco do Brasil em favor de Constantino, emitido pela Agrícola Xingu S.A.

A denúncia foi publicada no fim de semana e, desde então, Roriz não aparecia no Senado. Ontem, no discurso, disse que estava "envergonhado, constrangido e triste", que havia chorado e rezado muito, mas não havia cometido nenhum ilícito. Depois do pronunciamento, durante o qual não permitiu apartes, o ex-governador foi rezar na Catedral de Brasília. Roriz e seus assessores adiaram o discurso por temerem os efeitos. O ex-governador não é bom de oratória. Não tem traquejo parlamentar e não tem bom trânsito entre os senadores.

Em sua defesa, Roriz disse ter pedido empréstimo a Constantino, seu amigo antigo, para pagar um animal que havia comprado. O empresário lhe deu o cheque, descontado no BRB. Essa operação foi definida como "legal" pelo ex-governador, "que as instituições bancárias realizam com o propósito de atrair clientes de grande porte econômico-financeiro" como Constantino. Roriz tentou atribuir as denúncias à antecipação do processo eleitoral de 2010. "Ao que tudo indica, a eleição para os meus adversários já começou", disse.

O caso de Roriz tem sido tratado discretamente na Casa. Mas, reservadamente, a avaliação feita pelos senadores é que sua situação é difícil e sua defesa frágil. A falta de sustentação política contribui para agravar o caso. A maioria aposta que Roriz renuncie ao mandato para evitar eventual cassação do mandato e conseqüente perda dos direitos políticos por oito anos.