Título: Mercado brasileiro de TI atrai interesse de companhias da AL
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2007, Empresas, p. B3

O fato de que a brasileira Procwork estava à venda não era novidade para ninguém do setor de informática. Concorrentes de peso da companhia, especializados em consultoria e integração de sistemas de gestão - como Stefanini, Politec e Bearing Point -, são muito claros ao declarar que há pelo menos três anos já se fala no assunto.

Um ingrediente novo, porém, mexeu com boa parte do mercado de Tecnologia da Informação (TI) na noite de quarta-feira. A aquisição da Procwork não partiu de uma empresa nacional com vocação para se tornar um conglomerado de serviços de informática, como se imaginava. Tampouco fazia parte dos planos das multinacionais americanas.

Partiu dos empresários chilenos a decisão de arrematar a companhia que, hoje, é a maior operação brasileira para implantação dos sistemas SAP. Por R$ 230 milhões, a Sonda comprou a Procwork, uma decisão que, segundo o analista de serviços de tecnologia da IT Data, Álvaro Leal, evidencia o crescente interesse das empresas latinas no mercado brasileiro. "Como vimos acontecer no setor de telecom, há uma tendência de que empresários da região se voltem para o mercado brasileiro."

A limitação do mercado interno é o que estaria por trás desse interesse. O Chile, por exemplo, movimentou US$ 2 bilhões em TI no ano passado, segundo a subsidiária chilena da consultoria IDC. É praticamente um décimo do mercado brasileiro. O mercado chileno de serviços de tecnologia atingiu US$ 642 milhões em 2006, enquanto o Brasil experimentou algo em torno de US$ 8 bilhões só nesta área. Sozinho, o Brasil responde por 46% do total gasto com tecnologia na América Latina. O México concentra 23% da região, e a Argentina, 6%.

O caminho escolhido pela Sonda - que chegou ao Brasil em 2002 ao firmar parceria com a brasileira Imarés - segue a trilha já feita por empresas como a consultoria Softtek, do México, que está no Brasil desde 1994 e hoje conta com cerca de 1 mil profissionais no país. Outro exemplo da mesma área é a brasileira Neoris, comprada pela mexicana Cemex, uma das maiores fabricantes de cimento em todo o mundo. Tanto Softtek quanto Neoris atuam como integradoras de sistemas da alemã SAP.

Com a compra da Procwork, a Sonda entra em um novo mercado. A empresa, que até então se concentrava em sistemas usados para gerenciar infra-estrutura de tecnologia, passa a vender serviços de consultoria e implantação dos softwares da SAP, um negócio que rendeu faturamento de de R$ 257 milhões para a Procwork em 2006.

"É mais um passo na consolidação do setor, e isso vai aumentar", diz Oscar Caipo, presidente da consultoria Bearing Point, onde 60% do faturamento está atrelado à implantação de sistemas SAP.

Os concorrentes tentam amenizar o impacto que a Sonda poderá gerar ao entrar no mercado de serviços de TI . Segundo o presidente da consultoria Stefanini, Marco Stefanini, o fato de o setor ser muito pulverizado no país ajuda a amortecer mudanças. "Será um setor praticamente novo para a Sonda, não muda muito por aqui", diz.

Segue a toada Alexander Schmitz-Kohlitz, sócio-diretor da Polics, divisão da brasileira Politec criada apenas para implantar sistemas SAP. Fundada em setembro de 2005, a Polics conta hoje 400 pessoas, mas quer chegar a 800 até o final do ano, com faturamento projetado em R$ 50 milhões. "Não vimos aumento de competitividade quando a CPM se uniu à Braxis. Isso não ocorrerá agora", avalia.

A CPM Braxis preferiu não comentar o assunto, mesma posição adotada pela Sonda e Procwork. No primeiro trimestre deste ano, a SAP registrou um crescimento de 31,8% nas receitas com vendas de software e aumento de 94% em sua base de clientes na América Latina