Título: Ambição global
Autor: Zaparolli, Domingos
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2007, Caderno Especial, p. F1

A rede brasileira de fast-food Spoleto, especializada em culinária italiana, abriu dois restaurantes franqueados em Madri no início de 2007. A terceira unidade espanhola está programada para Málaga e entra em operação nos próximos 60 dias. Até lá, já estará funcionando a quinta unidade da rede na Cidade do México. No segundo semestre, a Livraria Nobel, que está presente em Portugal e Espanha, abre suas primeiras unidades no México e em Angola.

Não são casos isolados, 35 franquias brasileiras já atuam no exterior, somando mais de 500 pontos-de-vendas; 15 redes iniciaram sua internacionalização nos últimos dois anos.

A expectativa na Associação Brasileira de Franchising (ABF), segundo o diretor executivo Ricardo Camargo, é que novas 20 franquias nacionais levem suas marcas para o exterior nos próximos três anos. "As principais redes brasileiras têm know-how suficiente para se transformarem em marcas globais" diz.

O setor de franchising brasileiro faturou R$ 39,8 bilhões em 2006 em 62,5 mil unidades franqueadas. O país conta com 1.013 redes de franquias, sendo que 90% delas são de origem nacional. Este total coloca o Brasil na quarta posição mundial em número de marcas, atrás apenas dos Estados Unidos, Japão e China.

Camargo acredita que dois fatores principais estão impulsionando a expansão das franquias fora das fronteiras nacionais. O primeiro é a valorização do real em relação ao dólar, fato que minimiza o custo da expansão internacional. O segundo fator é um trabalho de fomento da internacionalização de franquias feito pela ABF em parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

Entre 2005 e 2006, 13 franquias nacionais participaram de oito feiras em países como México, Estados Unidos, Portugal e Espanha. A iniciativa resultou em expansão internacional para redes como Showcolate, Carmen Steffens, Wizard, Oceanic, Marisol, Mundo Verde, Bit Company, Golden Services, além de Spoleto e Nobel.

Em 2007, os franqueadores brasileiros já participaram de três feiras internacionais e até o final de 2008 estão previstas missões em mais sete países. O investimento em promoção comercial para estes dois anos é de R$ 3,3 milhões, partilhado entre Apex, ABF e as redes interessadas no projeto.

Foi por meio da participação em feiras que a Nobel contatou investidores e estabeleceu parcerias para sua expansão internacional. "Nossa estratégia é contar com sócios locais nos países em que chegamos. Nós temos o know-how do negócio e eles o conhecimento da cultura, da legislação e do mercado", diz Eduardo Pires, gerente de expansão da franquia.

A boa receptividade às franquias brasileiras no exterior tem acelerado os projetos de internacionalização. A Spoleto, criada em 1999 no Rio, abriu seu primeiro restaurante no México em 2005. Antonio Moreira Leite, gerente de expansão, informa que os planos para os próximos cinco anos já estão acertados com os parceiros locais e prevêem cem unidades no país.

Na Espanha, onde a empresa também entrou por meio de parceria com um master franqueado local, a meta é ter 50 restaurantes em cinco anos. A entrada em Portugal deve ocorrer nos próximos dois anos. Com apenas dois anos de operação internacional, a Spoleto já se sente confiante para estabelecer como prioridade a entrada no mercado americano. "Ir para os Estados Unidos nos dará projeção mundial", diz Leite.

Mas quais são os atrativos que uma rede brasileira de comida italiana pode apresentar para estrangeiros? Afinal, massa talvez seja o mais internacional dos pratos. "Não vendemos ´brasilidade´. O fato de a comida italiana ser popular no mundo facilita nossa internacionalização. Teríamos dificuldade se nosso produto fosse estranho ao paladar do estrangeiro. Nesse caso, precisaríamos criar o hábito de consumo, o que é demorado e dispendioso", diz Leite.

Segundo o executivo, após um trabalho de prospecção de mercado, a direção da Spoleto constatou que a rede possuía sim uma proposta diferenciada entre os fast-food de massa. Primeiro, pelo desenvolvimento de um cardápio classificado como mais saudável, com opções de acompanhamentos leves e saladas. Mas o principal trunfo em relação aos concorrentes, segundo Leite, está no atendimento. "Nossos pratos são customizados." O cliente pode solicitar que sua refeição seja preparada ao seu gosto, modificando ingredientes e escolhendo o ponto de preparo. Uma flexibilidade rara no mundo dos fast-food.

Ir para o exterior gera prestígio e rende royalties para os franqueadores. Para segmentos de negócios ligados à indústria representa também construir um canal de distribuição próprio e fortalecer a marca. É o que motiva a Carmen Steffens, fabricante de calçados femininos. Há quatro anos, a fábrica obtinha no exterior 25% de seu faturamento. As vendas eram realizadas por intermédio de distribuidores. A empresa optou por interromper esse modelo de exportação e substituí-lo por uma rede de franquias. Hoje conta com oito lojas franqueadas entre Portugal, Arábia Saudita, EUA, Paraguai e México. Gabriel Spaniol, diretor de expansão internacional, informa que neste ano a rede chega ao Uruguai, à Argentina e à Austrália. E já há um acordo fechado com um master franqueado para a Espanha.

O novo modelo de negócios, porém, reduziu o volume de exportações da Carmen Steffens. Em 2006, a marca obteve no exterior apenas 10% de seu faturamento de R$ 111 milhões. "O importante não é o resultado imediato. Mas o fato que estamos construindo uma marca internacional, o que nos permite comercializar produtos com maior valor agregado", diz Spaniol.

A internacionalização de franquias brasileiras não é um movimento novo. Redes como O Boticário, Localiza e Fisk, por exemplo, já atuam no exterior há anos. E são muitas as histórias de insucessos, recuos e mudanças de estratégia para sustentar a atividade fora do país. Franquias como Habib´s, Yázigi e China in Box são algumas que tiveram o dissabor de encerrar operações no exterior.

O consultor André Friedheim, da Francap, acredita que muitas franquias foram para o exterior, nos anos 90, por impulso, motivadas pelo status da operação internacional, mas sem planejamento. "Hoje o franchising brasileiro está mais maduro. A onda atual de internacionalização é mais consistente", afirma.