Título: Fugir da despesa do aluguel nem sempre é vantagem
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

O taxista César Duarte é um dos muitos consumidores brasileiros que estudam a compra de um apartamento para fugir da despesa mensal com o aluguel. Ele mora há três anos num apartamento de dois quartos, no bairro Tatuapé, zona Leste de São Paulo, e paga R$ 400,00 de aluguel. Segundo ele, o imóvel está avaliado em R$ 60 mil. "Estava dando uma olhada nos financiamentos e, com os juros mais baixos, estou pensando em comprar um apartamento porque a prestação seria quase a mesma coisa do meu aluguel", diz ele. "Acho que o momento é bom para um financiamento."

Em grande parte dos bancos, as taxas dos financiamentos à aquisição de imóveis hoje ficam na casa dos 10% ou 11% ao ano, isso fora do Sistema Financeiro Habitacional (SFH). Para os imóveis mais baratos, a taxa é menor, ficando na faixa de 8% ao ano.

Para outros, sair do aluguel pode ser considerada uma desvantagem. Há dois anos, a tradutora e intérprete Silvia Silva levou um baita susto quando seu marido Giuseppe resolveu vender o apartamento onde moravam, aplicar o dinheiro e pagar aluguel. Mas ele, que é presidente de uma empresa na área de tecnologia, fez as contas, a convenceu e os dois se desfizeram do apartamento duplex no bairro da Vila Mariana, região Sul de São Paulo.

O casal vendeu o imóvel por R$ 400 mil, investiu num fundo de renda fixa e, com a rentabilidade da aplicação, paga o aluguel de um outro apartamento na Vila Madalena, região Oeste da capital. Mas hoje, com os juros sensivelmente mais baixos e o aquecimento do mercado imobiliário, é preciso refazer as contas para saber se essa estratégia continua interessante.

O executivo calcula que entre o aluguel e condomínio paga R$ 2.200 por mês, o que dá uma despesa anual de R$ 26,4 mil. O retorno projetado para o fundo em que aplica é, segundo Giuseppe, de 13% ao ano, o que daria um retorno da ordem de R$ 52 mil. "É possível pagar o aluguel e ainda sobra quase metade para ser reinvestido", diz. "Para valer a pena a compra de um apartamento, o juro precisaria cair ainda mais." O fundo de renda fixa em que o executivo aplica seus recursos cobra taxa de administração de 1% ao ano. Considerando-se, por exemplo, um imposto de renda de 22,5% sobre o rendimento, o ganho líquido seria de algo próximo a R$ 40,3 mil - valor ainda mais do que suficientes para pagar a despesa com o aluguel.

A estratégia, no entanto, de vender o apartamento, aplicar os recursos e pagar aluguel é um tanto agressiva e requer bastante cuidado. Os consultores dizem que este pode ser o momento para o casal rever essa estratégia, caso queira, em algum momento, comprar, de fato, um imóvel. Com os juros caindo e o farto volume de crédito imobiliário, o preço dos imóveis deve subir e o casal pode ter de pagar mais caro quando decidir comprar um apartamento. (LM)