Título: Consumo consciente deve crescer entre os brasileiros
Autor: Tiago, Ediane
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2007, Caderno Especial, p. F3

A concorrência cada vez mais acirrada entre as empresas criou uma geração de consumidores exigentes. Em época de aquecimento global, eles aprenderam que, além de qualidade e bom preço, as companhias precisam oferecer produtos e serviços "engajados" com as causas ambientais e promover a sustentabilidade do planeta. Uma pesquisa realizada no ano passado pela Market Analysis, em parceria com o Instituto Akatu, com 1.275 adultos residentes em 11 cidades brasileiras revela que a tendência também chegou por aqui. Os dados apurados pelo estudo "Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente" mostram que 33% dos consumidores adotam atitudes conscientes na hora das compras e 37% aceitam pagar mais por materiais não-nocivos ao meio ambiente - sendo que, deste grupo, oito em cada dez entrevistados aceitariam um sobre preço entre 25% e 35% pela mercadoria com selo ambiental. "Notamos um aumento na conscientização do consumidor. As atitudes, que antes eram tomadas apenas por economia, agora ganham uma importância ambiental", destaca Paloma Zimmer, analista da pesquisa.

O comportamento consciente engloba desde atitudes simples como manter lâmpadas apagadas em ambientes desocupados e fechar as torneiras enquanto escova os dentes até a compra sustentável - que leva em conta a opção por produtos orgânicos e fabricados com materiais recicláveis. Ao analisar 13 comportamentos, a pesquisa segmentou os brasileiros como consumidores conscientes (5%), engajados (28%), iniciantes (59%) e indiferentes (8%) à questão ambiental. "O número de consumidores conscientes ainda é pequeno, mas o nível de informação sobre os impactos do consumo no meio ambiente tem crescido e elevado a prática de atitudes conscientes. Isso já é uma grande vitória", comenta Paloma.

Com o aumento da preocupação do consumidor em relação às questões ambientais, as empresas começam a traçar estratégias que envolvem desde a conscientização sobre consumo até parcerias para incentivar atitudes alinhadas com o desenvolvimento sustentável. O objetivo é conquistar clientes e estabelecer um elo entre ações corporativas e individuais.

É o caso da Whirlpool, que fabrica eletrodomésticos com as marcas Brastemp e Consul no Brasil. Para incentivar a reciclagem de embalagens, a companhia criou o Projeto Gaia, que prevê o recolhimento das embalagens utilizadas nos produtos que são entregues por seu canal de vendas diretas. O projeto, que está ativo apenas no Estado de São Paulo, recolheu 19,2 toneladas de embalagens no ano passado, reduzindo o impacto ambiental causado pela má destinação dos materiais. A meta para este ano é de reciclar 45% das embalagens. "Estamos trabalhando para expandir o programa a todo o país. Também avaliamos parcerias com as principais redes de varejo para ampliar a coleta", revela Paulo Vodianitskaia, assessor de meio ambiente e relações governamentais da fabricante de linha branca.

Pelo projeto, o consumidor é consultado sobre a possibilidade de doar a embalagem, que é coletada pela a equipe de entrega e levada de volta para o depósito da Whirlpool. Lá as embalagens recebem diferentes destinos. Podem ser reutilizadas para embalar produtos da própria empresa em operações de transferências entre depósitos, reutilizadas na construção de blocos para a construção civil (no caso do isopor), ou ainda serem doadas para organizações não-governamentais e empresas de reciclagem como acontece com o papelão.

O desenvolvimento sustentável é a filosofia do Banco Real, que além de projetos de cunho social e ambiental, desponta na era do consumo consciente. A empresa utiliza papel reciclado para enviar correspondências, como extratos mensais, para seus clientes e incorporou o uso do material até nos talões de cheque. "Não incentivamos o uso de papel. Mas como precisamos prestar informações a nossos clientes, optamos por utilizar o reciclado", comenta Carlos Nomoto, superintendente de desenvolvimento sustentável do Banco Real.

Segundo ele, há muito a ser feito pelo consumo consciente no Brasil e as empresas apenas engatinham nas iniciativas. "Temos de criar um mercado para isso. É difícil encontrar fornecedores engajados e é a nossa exigência que desenvolve o setor", revela. Entre os exemplos, ele cita que os fornecedores de brindes tiveram de se adaptar às políticas da instituição. "Nossos lápis são feitos com madeira certificada e as canetas com plástico reciclado. Tivemos de criar esta consciência em nossos fornecedores", lembra.

Outro projeto da equipe de Nomoto foi a construção de uma agência ambientalmente responsável na cidade de Cotia (SP). O projeto-piloto mostrou que é possível trazer o ambientalmente correto para o mundo real, utilizando o designer tradicional e a identidade visual exigida pelo banco. Na agência, tudo foi pensado para preservar o meio ambiente. As tintas utilizadas são feitas a base de água e não de solvente químico, as janelas foram projetadas para a utilização máxima da luz solar, toda a madeira usada é certificada e o carpete é feito com fibras de plástico reciclável. "Além destes cuidados, instalamos painéis de energia solar e capturamos água da chuva para abastecer os vasos sanitários e molhar as plantas", diz.