Título: Aumenta a oferta de cursos de gestão ambiental
Autor: Levy, Clayton
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2007, Caderno Especial, p. F3

As mudanças climáticas e suas implicações legais, políticas e econômicas também estão gerando impactos nas universidades. Nos últimos anos, cresceu o número de cursos voltados para gestão ambiental oferecidos por instituições públicas de ensino superior. Por enquanto, a maior parte deles ocorre na pós-graduação latu senso. Mas já começam a aparecer programas também na graduação. Em ambos os casos, o objetivo é formar profissionais aptos a lidar com os novos modelos de desenvolvimento pautados pelo Protocolo de Kioto, que obriga os países ricos a reduzirem suas emissões de carbono na atmosfera.

"Esse novo cenário está criando um mercado de trabalho para gestores que saibam articular os interesses empresariais com as mudanças na legislação", diz o engenheiro agrônomo e sociólogo Antonio Ribeiro de Almeida, coordenador do curso de gestão ambiental da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), ligada à Universidade Estadual de São Paulo (USP). O curso é um dos poucos no nível de graduação oferecidos por instituições públicas. Além dele, a USP Zona Leste, na capital, e a Universidade Federal de Dourados, no Mato Grosso do Sul, também oferecem gestão ambiental na graduação.

"Muitas empresas que relutavam em se envolver com as questões ambientais agora mudaram de lado e precisam de profissionais para desenvolver esse trabalho", avalia Almeida. Inaugurado em 2002, o curso oferece 40 vagas e já formou duas turmas. No último vestibular, atraiu 474 candidatos. "A idéia é formar um profissional preparado para elaborar e gerenciar projetos ambientais, principalmente, com relação ao desenvolvimento de estudos e relatórios de impactos ambientais".

Muitas empresas, porém, preferem investir na capacitação dos próprios funcionários em vez de esperar por recém-formados. Nesse caso, a saída são os cursos de pós-graduação latu senso, que começam a proliferar. "Nosso público é muito heterogêneo, com advogados, engenheiros e economistas", diz a engenheira Suani Teixeira Coelho, uma das coordenadoras do curso de especialização em gestão ambiental em negócios do setor energético, oferecido pela USP. Segundo ela, o objetivo é capacitar profissionais para analisar, avaliar, planejar, e implementar projetos.

"As empresas reclamam que o Estado demora para aprovar seus empreendimentos, mas o que se verifica é que a qualidade dos relatórios ambientais apresentados por elas é muito baixa", observa Suani. Aberto em 2005, o curso tem carga horária de 360 horas e custa R$ 950,00. "Devido ao aumento na procura, tivemos de fazer exame de seleção para compor a segunda turma", diz.

"Muitas vezes, as pessoas morrem na praia porque não sabem gerenciar projetos", diz o advogado Mauro Kahn, gerente executivo do curso de especialização em gestão ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com foco gerencial, o curso dura doze meses e, após esse período, o aluno tem mais 60 dias para apresentar o trabalho de conclusão. Um dos pioneiros no Brasil, o curso custa R$ 14 mil e formará sua 19ª turma em agosto.

"Estamos observando uma espécie de efeito manada", comenta o engenheiro mecânico Arnaldo César da Silva Walter, coordenador do curso de especialização em gestão ambiental da faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Depois que os primeiros profissionais se interessaram, todos os outros estão indo atrás", diz. Iniciado em 1995, o curso tem dois anos de duração e custa R$ 9 mil.

"Abriu-se um nicho de mercado e quem quiser agarrar a oportunidade terá de se preparar", afirma o engenheiro de produção Antonio Carlos Zambon, professor de outro curso de especialização em gestão ambiental mantido pela Unicamp, no campus de Limeira. "Além de profissionais vinculados a alguma empresa, também há aqueles que pretendem atuar como autônomos na área de consultoria".

"A tendência é o mercado ficar cada vez mais aquecido", confirma Rodrigo Soares, consultor da Case Consulting, empresa de recrutamento com foco em média gerência. Em pouco mais de um ano, a consultoria recrutou profissionais para 36 vagas ligadas a sustentabilidade. A remuneração é um dos maiores atrativos. Especialistas ganham em torno de R$ 8 mil, enquanto gerentes sêniores podem receber o dobro.

Os salários inflacionados são conseqüência da escassez de profissionais preparados para atender às necessidades do mercado, que exige uma visão não só de meio ambiente , mas de aspectos sociais e econômicos. Um dos gargalos é o mercado global de créditos de carbono, que triplicou de tamanho nos últimos dois anos, passando de US$ 10 bilhões em 2005 para US$ 30 bilhões em 2006.

"O tema é novo e não o vejo nas ementas dos cursos oferecidos pelas universidades", destaca Augusto Mello, gerente de projetos da consultoria americana ICF International, que em 2002 abriu escritório no Rio. No mercado brasileiro existe hoje pelo menos uma dezena de consultorias especializadas em cálculos de reduções de poluentes, prospecção de mercado, preparação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL, que permitem a comercialização dos créditos de carbono) e até na "neutralização de carbono", a compensação dos gases poluentes emitidos por indivíduos ou empresas através do plantio de árvores.

"O grande boom é do pessoal técnico para projetos de MDL e neutralização", diz Mello. Para fazer frente à demanda, as empresas de consultoria especializadas em sustentabilidade tem optado por uma solução híbrida. "temos buscado tanto profissionais que estão iniciando a carreira quanto pessoas com maior experiência."