Título: Para Mandelson, a aliança entre brasileiros e indianos fica ' fraca' após Potsdam
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2007, Brasil, p. A3

A União Européia aposta numa ruptura entre o Brasil e a Índia, líderes de grupos de países em desenvolvimento, no novo formato de negociação para salvar a Rodada Doha. Por sua vez, os EUA continuam alvejando o país por ter "abandonado" a mesa de negociações em Potsdam. O comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, fez um balanço das discussões do G-4 para negociadores dos 27 países membros. Ele atribuiu o "rompimento temporário" ao que chamou de "intransigência" brasileira na área de bens industriais. Contou que Amorim teria acenado no máximo com corte pelo coeficiente 25 a 30. O ministro nega ter mencionado esses números.

Segundo um negociador que ouviu o relato de Mandelson, o comissário disse que, com a negociação de volta à OMC, a aliança entre Brasil e Índia fica "mais fraca" e pode ser rompida. No G-4, os dois países se mostraram unidos, apesar de interesses divergentes. Agora, as barganhas serão entre mais países, incluindo Argentina, África do Sul e China. Em Potsdam, Mandelson sempre olhava para o ministro indiano Kamal Nath e lembrava que a Índia já tinha iniciado liberalização, procurando causar um racha com o Brasil.

O que o comissário europeu não contou foi sobre a suposta flexibilidade na área agrícola, aumentando a suspeita de países comunitários. "Sem transparência, a suspeita vai além da situação rural, mas há uma divisão maior dentro da UE sobre Doha", afirmou outro negociador.

Quanto à representante comercial americana, Susan Schwab, sua versão sobre o chá com Amorim em Genebra tem outro tom que o dado pelo ministro. "Se eles (Schwab e Mandelson) estão correndo atrás, é porque tem alguma coisa por aí", disse Amorim, numa indicação de que a posição brasileira teria sido melhor entendida.

"Ouvi dizer, não vou dizer de quem, que as pessoas ficaram muito impressionadas com nossos argumentos em produtos industriais, sobretudo que nossos cortes em tarifas aplicadas representam mais criação de comércio do que os cortes dos países desenvolvidos", contou o ministro.

Fonte do USTR, agência de representação comercial americana, disse que Schwab se encontrou com Amorim para ver se as coisas haviam se acalmado desde que ele e Nath "decidiram partir" da negociação. "Ela disse que estava desapontada com o fato de o Brasil não ter mostrado flexibilidade para se mover em produtos industriais e que, partindo, tenha deixado na mesa muita coisa que teria beneficiado agricultores e industriais brasileiros", acrescentou a fonte. "Schwab acha que os maiores perdedores foram os países em desenvolvimento, que tinham muito a ganhar com a oferta americana."

Para o governo brasileiro, a questão é simples: os países ricos estavam acostumados a obter resultados obtidos com "um pouquinho de pressão" sobre as nações em desenvolvimento. "Agora isso não dá mais", afirma Amorim.

Para certos negociadores em Genebra, o que estava na mesa em Potsdam, com o limite a US$ 17 bilhões para os subsídios agrícolas americanos, não será diferente de um acordo final. "Aí então não haverá acordo", avisa o embaixador brasileiro na OMC, Clodoaldo Hugueney. (AM)