Título: Senadores recusam relatoria do caso Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2007, Política, p. A8

O processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), enfrenta impasse no Conselho de Ética. Nenhum senador convidado pelo presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC), aceitou ser o terceiro relator do caso. Ameaça do líder do Democratas, José Agripino (RN), de convocar os líderes a exigir uma solução pode forçar uma definição hoje. Sibá convocou reunião para amanhã.

Ontem, Renan disse que "querem assassinar" sua honra: "Está claro que querem assassinar minha honra. Mas não vão assassinar porque não têm provas de absolutamente nada". A suspeita contra ele é de ter feito pagamentos à jornalista Mônica Veloso - com quem tem uma filha - com recursos de uma empreiteira. A acusação se baseia no fato de Renan ter usado Cláudio Gontijo, funcionário da Mendes Júnior, para entregar os pagamentos a Mônica.

Para provar que tinha condições de arcar com as despesas, o senador apresentou documentos que comprovariam vendas de gado. "Inconsistências" apontadas por peritos da Polícia Federal despertaram dúvidas nos integrantes do conselho. Decidiram aprofundar as investigações e adiar a votação do parecer.

O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), afastou Valter Pereira (MS) do conselho para abrir uma vaga entre os titulares. Contrariando o partido, Pereira apresentou voto em separado pedindo mais investigação. Raupp, que é suplente no conselho, assumiu o lugar de Pereira entre os titulares. Mas estava à procura de um pemedebista que aceitasse a missão de relatar parecer inocentando ou condenando Renan.

O primeiro relator, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), afastou-se por licença médica, depois de apresentar parecer determinando arquivamento da denúncia contra o presidente do Senado. Seu substituto, Wellington Salgado (PMDB-MG), renunciou no mesmo dia, depois de elaborar aditivo ao parecer de Cafeteira e discordar do adiamento.

Aliados de Renan admitem não ter mais pressa, já que a estratégia de arquivar sumariamente a representação fracassou. Apostam no esfriamento do caso. Tentariam limitar a investigação do Conselho de Ética à questão da suposta quebra de decoro - uso ou não do dinheiro da empreiteira. As questões criminais - superfaturamento de preço de boi, notas frias e outros - seriam encaminhadas para o Ministério Público oferecer ou não denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Agripino cobrou uma solução para o caso até 15 de julho, quando começa oficialmente o recesso legislativo. "Mais do que a imagem de Renan está-se desgastando a imagem do Senado. Estamos individualmente todos em jogo", disse Agripino.