Título: Aché propõe acordo com o governo para investir
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2007, Empresas, p. B8

O laboratório farmacêutico Aché apresenta amanhã uma proposta ao governo federal para construção de uma fábrica de medicamentos de biotecnologia desde que haja promessa de compra dos produtos fabricados por ela por parte do poder público.

"Vamos fazer um plano de unir a política de saúde com a política industrial", explica o diretor-geral de operações do Aché, José Ricardo Mendes da Silva. "Existe uma empresa brasileira interessada em fazer medicamentos de biotecnologia aqui e queremos saber qual o apoio que o governo pode nos dar."

O laboratório está tentando sensibilizar o alto escalão do governo para seu projeto num momento em que o Ministério da Saúde e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) esboçam um plano para fortalecer localmente a indústria farmacêutica de pesquisa, geradora de renda e empregos de alta qualidade.

Segundo Mendes da Silva, a proposta já encontrou apoio dos técnicos do BNDES, instituição que mantém uma linha de financiamento voltada à indústria farmacêutica. A idéia é discutir o assunto com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

O plano do Aché é construir uma fábrica em parceria com uma empresa estrangeira, que irá transferir a tecnologia biológica. Mendes da Silva não revelou o nome do laboratório, mas salientou que a farmacêutica não tem atuação no país. A idéia é investir inicialmente US$ 35 milhões na fábrica e em equipamentos. Para incorporação de novas tecnologias, o projeto exigirá outros milhões em investimentos, disse o executivo.

O executivo do Aché acredita que o país precisa de uma fábrica de biotecnologia para suprir as necessidades da população, reduzir o déficit comercial e entende que é possível desenvolver produtos nacionalmente e gerar empregos e renda de alta qualidade. Os medicamentos de biotecnologia, que permite a utilização de material biológico de plantas e animais com finalidade industrial, são em sua maioria importados e de alto custo, pressionando o orçamento público de saúde.

Mendes da Silva acredita que uma política industrial estimulando a construção de uma fábrica de biotecnologia obrigará as empresas estrangeiras a produzir localmente, "e não apenas embalar produtos aqui." "Ainda dá tempo para o Brasil entrar na onda da biotecnologia. Em síntese química, perdemos a chance para os competidores da China e Índia onde se exigem grandes escalas de produção", disse.

O Aché, controlado pelas famílias Syaulis, Baptista e Depieri, passou a fornecer medicamentos ao governo depois de adquirir a Biosintética, outro laboratório de capital nacional, no fim de 2005. As vendas públicas respondem por 8% da receita do laboratório, de R$ 1,01 bilhão no ano passado.