Título: Estratégia para atender o PMDB
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 10/01/2011, Politica, p. 2

Dilma começa a segunda semana no Planalto com uma tática: recebe hoje do vice Michel Temer a lista de nomes do segundo escalão, mas nomeações ficarão diluídas ao longo do semestre. Primeira reunião ministerial será na sexta

Com a crise escondida entre PT e PMDB, a presidente Dilma Rousseff elabora uma estratégia homeopática para atender às demandas do principal aliado no Congresso. Diante da extensa lista de cargos a ser apresentada hoje pelo vice Michel Temer, a ordem é nomear as presidências das estatais com técnicos e diluir outras indicações ao longo do primeiro semestre. O esforço dela é retirar o foco da semana da disputa por postos de direção e assessoramento para poder se debruçar sobre o pacto de segurança pública e contingenciamento do Orçamento Geral da União

A determinação de Dilma de que as estatais não serão ocupadas por políticos vale para todos os partidos e é sublinhada ao setor elétrico. Para a presidente, diretorias da Eletrosul, Eletronorte, Presidência da Eletrobras, Furnas e Itaipu não serão abertas aos derrotados nas urnas. Nesta semana, os partidos buscarão fazer uma investida no chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, para flexibilizar a ordem e garantir o espaço aos náufragos à deriva desde a eleição de outubro e manifestar contrariedade com a posição do Palácio do Planalto.

A reclamação é que o PT consegue emplacar seus quadros em qualquer posto e os aliados têm de apresentar técnicos. ¿A coisa agora distendeu, mas o PMDB não pode receber só os tiros. Ninguém fala dos outros partidos¿, disse o líder peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN). ¿O PMDB agora é governo, quer os cargos para dividir responsabilidade e isso não é fisiologismo. Se isso for fisiologismo, eu sou fisiologista porque estou procurando os espaços para buscar o melhor para o governo Dilma¿, emendou o deputado.

Na disputa Para aplacar a insatisfação, petistas como Ana Júlia Carepa (PA), Cláudio Vignatti (SC), Altemir Gregolim (SC), além de aliados como Dagoberto Nogueira (PDT-MS), Osmar Dias (PDT-PR) e Bernardo Ariston (PMDB-RJ) não serão agraciados com cargos, pelo menos num primeiro momento. Os que estão no páreo buscam postos de segundo escalão nos ministérios. Os expoentes são Paulo Rocha (PT-PA), derrotado na eleição pelo Senado e réu no processo do mensalão, e Carlos Abicalil (PT-MS). Ambos são cotados para a cadeira de subchefe de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institicionais.

Ariston, que teve seu nome lembrado para a Presidência da Embratur, busca seu lugar na Esplanada com ajuda de Henrique Eduardo Alves. A presidente, no entanto, está determinada, segundo parlamentares do PT, a enxugar toda a influência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na máquina federal, o que acabará por frustrar as investidas dos peemedebistas do Rio. Para diminuir os protestos de Henrique Eduardo Alves, ele deverá levar a indicação da Presidência da Funasa. O parlamentar trabalha pela manutenção de Faustino Lins na cadeira.

Agora a seara da Saúde pode ser considerada a mais tranquila para o PMDB. O partido também terá de enfrentar uma aliança branca formada entre PT e PSB. Os dois partidos se uniram para emplacar todas as indicações de estatais ligadas ao Ministério da Integração Nacional ¿ Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Não só, querem também o Banco do Nordeste e a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (Chesf). O primeiro está na cota do PT do Ceará e a segunda da bancada nordestina do PSB.

Dilma volta a discutir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as áreas do Orçamento que terão de ser bloqueadas e fazer esforço para poupar áreas sensíveis do PAC e do Minha Casa, Minha Vida. Além disso, na próxima sexta-feira, será realizada a primeira reunião ministerial. Na esfera social, a presidente despacha com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para negociar com governadores o pacto pela segurança pública. A primeira parada será no Rio de Janeiro e nos dias 17 e 18 a conversa será com os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB).

Caminhada no Torto Diego Abreu

A presidente Dilma Rousseff aproveitou o domingo sem compromissos na agenda para fazer uma caminhada pela residência de campo da Granja do Torto. Avistada por volta das 10h25, ela demonstrava estar bem disposta no primeiro domingo de folga depois que tomou posse. A presidente passou o fim de semana em Brasília, na companhia da mãe, Dilma Jane, da filha, Paula, e do neto, Gabriel, que nasceu em setembro do ano passado, durante a campanha eleitoral.

Enquanto a presidente caminhava, seguranças faziam o monitoramento das principais vias de acesso à Granja do Torto. Dilma vestia uma camisa preta, calça legging e usava óculos escuros e um boné claro, embora o dia estivesse nublado. Escoltada por dois seguranças, sendo que um deles carregava um guarda-chuva, ela não passou perto das grades que cercam a residência.

Por volta das 8h, a presidente recebeu a visita do assessor pessoal Anderson Dorneles, que a acompanha há 17 anos, desde a época em que era office boy. Ele chegou à Granja do Torto em um Golf preto e passou o dia na residência. Nenhum veículo com placa de ministro de Estado entrou na Granja durante todo o fim de semana.

Apesar de ter assumido a Presidência da República no último dia 1º, Dilma continua morando na Granja do Torto. Ela deve se mudar para o Palácio da Alvorada somente no fim do mês, pois ainda aguarda o término da mudança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ser concluída no próximo fim de semana.

Mudança em 11 caminhões O Palácio do Planalto divulgou durante o fim de semana o valor da mudança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para São Bernardo do Campo. Serão gastos R$ 19.499 com o transporte do 1,4 milhão de presentes recebidos ¿ entre cartas e objetos ¿ durante os oito anos dos dois mandatos. No total, 11 caminhões irão levar o material de Brasília até a cidade do ABC paulista.

Mangas de presente

A funcionária pública Maria Goretti Carvalho, de 46 anos, deu um presente, no mínimo, inusitado para a presidente Dilma Rousseff. Ela entregou uma dúzia de mangas, colhidas no quintal da chácara dela, que fica perto da residência da Granja do Torto. As frutas foram entregues aos seguranças do local, que prometeram levá-las até Dilma. Goretti, que diz ser fã da presidente, também entregou aos seguranças uma carta com elogios ao trabalho desenvolvido pela petista. Ela disse ter conhecido a história de Dilma no começo da década de 1970, em sua cidade natal, Cristalândia (TO), na região do Araguaia. ¿Lá a gente via cartazes de pessoas procuradas pelo governo militar¿, contou. (DA)