Título: P-SOL quer que Conselho de Ética investigue Roriz
Autor: Jayme, Thiago Vitale e Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2007, Política, p. A9

O caso Renan nem chegou ao fim e outro senador do PMDB, Joaquim Roriz (DF), deverá ser alvo de uma representação no Conselho de Ética do Senado. O P-SOL informou ontem que vai pedir a entrada do conselho nas investigações do Ministério Público contra o ex-governador do Distrito Federal. Segundo a revista "Época", Roriz foi flagrado em telefonemas suspeitos com o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Tarcísio Franklin de Moura.

Gravadas com autorização judicial pela Polícia Civil do DF, as conversas ocorreram no dia 13 de março. Nos diálogos, Moura e o senador combinam de se encontrar no escritório do empresário Nenê Constatino, presidente do Conselho de Administração da companhia aérea Gol, em Brasília, para dividir cerca de R$ 2,23 milhões. "Senador, posso sugerir um negócio? Por que a gente não leva para o escritório do Nenê?", pergunta o ex-dirigente do BRB. "Era para ser isso mesmo", responde o ex-governador. "E de lá sai cada um com o seu", afirma Tarcísio. "É isso mesmo. Lá não tem dúvida nenhuma", concorda Roriz.

O grampo faz parte da Operação Aquarela, da Polícia Civil do DF, na qual 19 pessoas foram presas, acusadas de desviar R$ 50 milhões do BRB. Entre os presos está Tarcísio Moura, que presidiu o banco de 1999 a 2006, quando Roriz governou o DF.

"As irregularidades no caso nos parecem evidentes. São indícios fartos de quebra de decoro parlamentar. A bancada vai se reunir hoje com nossos advogados e ver a melhor forma de fazer a representação", revelou ontem, ao Valor, o líder do P-SOL na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ).

Até parlamentares da base do governo esperam explicações do ex-governador. "As denúncias são graves. O senador Roriz precisa ir à tribuna se defender. Espero suas explicações", diz o senador Jefferson Péres (PDT-AM), para quem o caso deve ser levado ao Conselho de Ética.

Até ontem, porém, Roriz resistia à idéia de usar a tribuna do Senado para se defender. "O que tínhamos que fazer até agora já foi feito", disse Valério Neves, assessor do senador, referindo-se à divulgação de documentos que, na sua avaliação, são suficientes para explicar o conteúdo das gravações.

Segundo Neves, Roriz foi ao escritório de Constantino, amigo muito antigo, para receber R$ 300 mil de um empréstimo feito pelo empresário. O dinheiro foi emprestado para que o senador, que também é pecuarista, pudesse pagar um bezerro comprado da Universidade de Marília. Antes de entregar os recursos, o empresário precisava depositar um cheque de R$ 2,231 milhões que havia recebido da Agrícola Xingu. Foi aí que entrou o então presidente do BRB. Conforme Neves, como se tratava de quantia muito alta, Moura foi acionado para facilitar a operação e fazer a partilha do que ficaria com Constantino e o que iria para o senador. Essa é também a versão apresentada pela assessoria da Gol.

Valério Neves destaca ainda que não há - pelo menos não até agora - qualquer denúncia do Ministério Público contra o senador. "O que existe não é denúncia e sim um vazamento maldoso (das ligações)", protesta. Roriz tem foro privilegiado. Por isso, o Ministério Público do DF enviou a documentação à Procuradoria-Geral da República, que dará segmento às investigações. Se for chamado a se explicar, diz Neves, o senador apresentará os mesmos documentos que já divulgou, entre eles o cheque nominal da Agrícola Xingu a Constantino e a nota promissória do empréstimo a Roriz.