Título: Donos da Gol devem investir na Unicel
Autor: Moreira, Talita e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2007, Empresas, p. B3

A família Constantino, controladora da empresa aérea de baixo custo Gol, negocia a compra de participação na Unicel, que detém autorização para atuar como a quarta operadora de celular da Grande São Paulo. Os termos do negócio ainda estão sendo discutidos, mas já em estágio avançado, segundo fontes a par das conversas.

O ingresso dos Constantino na telefonia móvel não tem caráter estratégico. O plano é comprar a fatia na Unicel agora e revendê-la um pouco mais adiante, perfazendo um bom lucro.

A família embolsou quase R$ 800 milhões com as duas vendas de ações da Gol, em 2004 e 2005. Desde então, tem procurado aplicar os recursos em um estilo semelhante a um private equity. Foi assim com a Providência, maior fabricante brasileiro de não-tecidos. Junto com o fundo de private equity AIG Capital, os irmãos Constantino Júnior, Henrique, Joaquim e Ricardo adquiriram a empresa em outubro, por cerca de R$ 1 bilhão. Passados apenas oito meses, preparam a abertura de capital da companhia, o que abrirá a porta para a saída do investimento. O pedido de registro da oferta da Providência já foi feito à Comissão de Valores Mobiliários.

Coincidência ou não, os fundadores da Unicel sempre afirmaram que gostariam de fazer da operadora "a Gol da telefonia móvel" e que tinham o modelo da companhia aérea - chamado de "low cost, low fare" (baixo custo, baixa tarifa) - como inspiração.

A Unicel tem como principais acionistas José Roberto Melo da Silva (que é também o presidente da companhia) e a EBJ Oito, empresa de participações criada pelo americano Edward Jordan e pela brasileira Gedilva Targino. Eles dizem ter um projeto de investimento de US$ 120 milhões para construir uma rede de celular com 500 estações radiobase, na tecnologia GSM, que entrará em operação até o fim deste ano.

Numa entrevista concedida ao Valor em outubro do ano passado, Jordan afirmou que a Unicel teria um pacote único de serviços, pré-pago, com tarifas de 30% a 40% inferiores às cobradas pelas demais empresas de telefonia móvel brasileiras. Para isso, segundo ele, a operadora ficaria de fora da guerra de preço de aparelhos de celular e faria apenas investimentos mínimos em marketing.

Na sexta-feira, Jordan afirmou que não poderia comentar as negociações com a família Constantino enquanto não tivesse um comunicado oficial para fazer.

A trajetória da Unicel é controversa. A empresa foi a única a apresentar proposta para a quarta licença da Grande São Paulo num leilão promovido pela Anatel em fevereiro do ano passado. Porém, o órgão regulador só habilitou o resultado do leilão neste ano, após uma disputa que foi parar na Justiça.

Em outubro, a Unicel obteve no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF) o direito de depositar como garantia apenas 1% - e não 10%, como previa o edital da Anatel - do valor da outorga, de R$ 93,8 milhões. Depois disso, outra empresa que agora estaria interessada na licença, a Intec, acusou a operadora de não ter cumprido todos os requisitos da licitação e pressionou a Anatel a cancelar o processo. O termo de homologação da Unicel só foi publicado no "Diário Oficial da União" em abril.

A empresa irá competir na região metropolitana de São Paulo com as operadoras Vivo, TIM e Claro - as três maiores do país.

Desde que a Unicel surgiu, algumas fontes do setor de telecomunicações acreditam que ela poderá atrair o interesse da Oi (ex-Telemar) e da Brasil Telecom, especialmente se sair do papel o plano de fusão das duas operadoras. Nenhuma delas tem licença de telefonia móvel em São Paulo, que é o mercado mais rico do país e tem importância estratégica nas ofertas a assinantes corporativos.