Título: Expansão acelerada provoca filas de espera de mais de um ano por caldeira
Autor: Capela, Maurício e Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2007, Empresas, p. B6

Os planos de expansão das atuais usinas de açúcar e álcool em co-geração de energia são tão ambiciosos quanto os projetos de novas unidades no país. Essa ambição, contudo, esbarra em um grave gargalo de produção. Há uma fila de espera de pelo menos um ano para que as usinas possam adquirir caldeiras e turbinas de alta pressão para incrementar a geração de energia.

"O prazo de entrega de novas turbinas saltou de 10 meses, há um ano, para 12 a 16 meses para quem faz novas encomendas hoje", afirma Júlio Bianchini, da TGM, de Sertãozinho (SP), uma das maiores produtoras de turbinas para co-geração do país.

As indústrias de base trabalham a todo vapor para atender à forte demanda. Na Dedini, de Piracicaba (SP), as vendas de caldeiras de alta pressão foram de 24 unidades em 2006. As entregas para este ano vão ser de 26 unidades, que foram encomendadas com antecedência. "A demanda por caldeiras cresce 50% ao ano, desde 2000", afirma Sérgio Leme, vice-presidente da companhia.

E a cada ano as mudanças tecnológicas se aceleram. Leme explica que as usinas de médio e grande porte já utilizam caldeiras de 65 bars (medida de unidade de pressão), ante uma média de 42 bars no final dos anos 90. "Já produzimos equipamentos com potência acima de 90 bars."

O grupo Cerradinho, com uma usina em operação em Catanduva (SP) e outra ainda em construção em Potirandaba (SP), aguarda na fila a entrega de uma caldeira para sua nova unidade, que deverá entrar em operação em 2008. Os investimentos em co-geração de energia do grupo teve início durante a última crise de apagão no país, a partir dos anos 2000. Até então, os investimentos do grupo eram para consumo próprio. "Cada empresa busca diversificação de suas atividades. É lógico que o açúcar e álcool continuam como carro-chefe da usina. Mas estamos buscando alternativas", disse Herbert Moraes Machado, supervisor da área de co-geração do grupo.

Boa parte dos grandes grupos sucroalcooleiros está em fase avançada de investimentos em seus projetos. Mas há uma parcela considerável de pequenas e médias usinas que também demonstram interesse na co-geração de energia, mas não tem recursos para bancar sua expansão. De olho neste filão, a União Energia, braço da União Corretora, em parceria com bancos de investimentos, começa a financiar usinas interessadas em aumentar a potência de geração de energia. "O comércio de energia começou a ficar interessante há pelo menos um ano", diz Francisco de Lavor, presidente da União Corretora, que assessora usinas interessadas em produzir energia excedente. "As usinas não tinham se dado conta do potencial de mercado de energia por conta dos preços atraentes do açúcar e do álcool. Agora o cenário é outro."

Algumas usinas, contudo, dizem se sentir desmotivadas pelos preços oferecidos nos leilões de energia e também pelos investimentos que são obrigadas a fazer em linhas de transmissão da energia que comercializa. Lavor lembra que, apesar desses "entraves", este mercado de energia está demandante, o que justifica os investimentos. "O setor tem matéria-prima em abundância", diz.

Somado ao bagaço da cana, a palha também vai agregar volume para co-geração. Em São Paulo, maior estado produtor de cana do país, o fim da queima da palha foi antecipada de 2021 para 2014, em um acordo entre as usinas e o governo estadual, o que pode gerar uma energia excedente de até 2 mil MW, lembra Onório Kitayama, consultor de energia da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). E as usinas não reclamam desta antecipação. Afinal de contas, palha é energia. (MS)