Título: Salários no Brasil são os mais altos entre os Brics
Autor: Giardino, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2007, EU & Investimentos, p. D6
O Brasil, de longe, é o que melhor paga seus executivos em comparação a outros países do chamado Bric (sigla que representa Brasil, Rússia, Índia e China) - as quatro economias emergentes no comércio global. Um presidente no país ganha por ano, em média, entre fixo e variável, US$ 849 mil, enquanto na China (especificamente em Hong Kong) a remuneração de um comandante é de US$ 615 mil. Na Índia, ela cai vertiginosamente para US$ 219 mil.
No entanto, quando se olha apenas a parte fixa do pacote, os chineses têm um salário fixo mais alto. Em média, recebem US$ 357 mil, o dobro dos indianos e cerca de US$ 61 mil a mais que os brasileiros. "O avanço chinês já traz impactos relevantes ao cenário atual e deve ter reflexos mais visíveis daqui para frente", explica Gabor Faluhelyi, da consultoria Towers Perrin, que realizou pesquisa global sobre remuneração. "A guerra por talentos promete elevar ainda mais os salários na região".
O levantamento foi realizado em 26 países, com empresas de faturamento acima de US$ 500 mil, entre 2005 e 2006. Embora a fatia de bônus no pacote total de remuneração entre os três países do Bric seja semelhante - girando entre 15% e 20% -, as diferenças são gritantes em relação aos incentivos de longo prazo. "O Brasil possui programas mais agressivos que representam 20% da composição geral da remuneração", afirma. Na China, esse percentual cai pela metade e na Índia ainda não existe esse tipo de atrativo para o alto escalão.
Hoje, o Brasil se destaca nos incentivos de longo prazo, com a distribuição de opções de ações aos executivos. Uma prática disseminada por grupos multinacionais e que está sendo bastante utilizada por empresas nacionais que estão abrindo o capital na Bovespa, como um mecanismo de retenção de talentos.
Para ele, a disputa por investimentos estrangeiros e a instalação de multinacionais na região dos Brics deverão gerar uma movimentação ainda maior nesse sentido. "As companhias que se instalarem na Índia levarão seus programas de longo prazo e as locais precisarão acompanhar esse movimento se quiserem ser competitivas", observa.
Curiosamente, as empresas na Índia se destacam pela concessão de benefícios diferenciados. Eles representam 33% do pacote de remuneração total dos executivos. O primeiro escalão têm, além de check up médico e automóvel da empresa, auxílio moradia, possibilidade de empréstimos a juros mais baixos e passe livre em clubes esportivos. "Mas de forma geral, a Índia ainda é pouco atrativa para profissionais do primeiro time que preferem buscar oportunidades fora", diz Faluhelyi.
Outro levantamento feito pela consultoria Watson Wyatt sobre a remuneração de gerentes feito este ano - incluindo a Rússia - mostra um cenário bastante parecido, com o Brasil também ocupando a "pole position" no quesito salarial. Ele se destaca como um dos melhores pagadores. Os russos, por exemplo, ganham 28% menos que os brasileiros, os chineses 58% e os indianos estão ainda mais distantes, com uma grande diferença de 84%.
"O principal fator é o câmbio. Com o real forte, os gerentes acabam sendo bastante beneficiados", afirma Marco Santana, gerente regional da Watson para América Latina. Na sua opinião, apesar desse ser um bom indicativo para o profissional local, quando se fala em exportar talentos a situação pode complicar. "Levar um brasileiro para outro país acaba não sendo tão interessante, porque ele se tornou mais caro", diz. "Entretanto, não acredito que isso seja de todo ruim, porque a formação e a bagagem dos nossos executivos superam, em muitos casos, a dos chineses e indianos", avalia.
Entre os Brics, a Índia, segundo Santana, vem ganhando espaço nos projetos de tecnologia da informação, pelo grau de escolaridade crescente dos profissionais e o domínio do inglês. "Nos níveis mais técnicos, esse é um diferencial relevante, sem contar os salários mais baixos". Já a China enfrenta um turnover interno alto de talentos nas empresas. "Há um rouba-rouba de pessoas, o que no futuro promete inflacionar a remuneração atual".
A pesquisa da Watson, em contrapartida, revela que para profissionais da base da pirâmide, as diferenças salariais entre Brasil e Rússia inexistem. Ao contrário da China e da Índia, que mantêm as mesmas disparidades observadas nos salários do nível gerencial. Ou seja, um chinês ganha 58% a menos que um brasileiro. E o salário de um indiano é 81% menor que o de um profissional no Brasil.