Título: Celular fortalece acordos com bandeiras
Autor: Saraiva, Jacílio
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2007, Caderno Especial, p. F3

O celular pode substituir os cartões de débito e crédito? Para a maioria dos especialistas, as compras e movimentações bancárias que podem ser feitas pelo telefone móvel são complementares ao dinheiro de plástico. Instituições financeiras que já aderiram ao mobile banking ou banco móvel, como o Banco do Brasil, Itaú e Real utilizam a mesma infra-estrutura das operadoras de cartão para efetivar as transações feitas pelo celular.

Por outro lado, companhias de telefonia, como a Oi, já facilitam o pagamento de contas pelo aparelho em operações que dispensam os POS (Point of Sale) ou terminais de leitura de cartões. Tanta movimentação no setor não é de graça: o potencial de mercado à espera do banco dentro do celular é de encher os olhos - são mais de 102 milhões de aparelhos no Brasil.

Para Mauricio Ghetler, consultor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) na área de mobile banking, mesmo com a entrada do celular no segmento bancário, os cartões de crédito e de débito continuarão em alta, porque são necessárias tanto para o consumidor quanto para o mercado financeiro.

"A diferença é o que o celular pode apresentar novas alternativas para o cliente além do crédito rotativo de um cartão, como o crédito pessoal, o CDC-Crédito Direto ao Consumidor, o crédito consignado em folha e o micro crédito, linhas complementares que os bancos sempre desejaram oferecer em modo on-line".

Para Raul Moreira, da diretoria de varejo do Banco do Brasil, a presença dos serviços bancários em terminais móveis aparece como mais uma facilidade para os clientes. "Ninguém vai deixar de usar os caixas eletrônicos e o internet banking por causa disso".

O BB lançou operações bancárias como consulta de saldo e transferências pelo celular em 2005. Hoje, tem 450 mil usuários neste segmento que recorrem, principalmente, à consulta de saldo - operação responsável por 70% das solicitações feitas pelo aparelho. Por mês, são mais de dois milhões de transações realizadas via celular.

Em setembro, em parceria com a Visanet, empresa que cadastra estabelecimentos comerciais para o uso dos plásticos Visa, o banco vai transformar o celular em uma carteira. "Ao fazer uma compra, o cliente diz ao lojista que deseja pagar com o aparelho. O lojista usa o terminal da Visanet para registrar a transação e o usuário recebe uma mensagem de texto no telefone, confirmando a compra", explica Glória Guimarães, diretora de tecnologia do BB.

A instituição disparou um projeto piloto do pagamento móvel em maio. O serviço estará disponível em cerca de quatro mil estabelecimentos nas cidades de Brasília (DF), São Paulo, Osasco e Barueri (SP). O BB também quer oferecer a facilidade para clientes no Japão, Estados Unidos e Inglaterra. "O próximo passo é levar o recurso para as contas de pessoas jurídicas em PDAs (Personal Digital Assistant ou Assistente Pessoal Digital)".

O Itaú desenvolveu sua solução de pagamento pelo celular, lançada há dez dias, com a Redecard, empresa que cadastra estabelecimentos para as bandeiras MasterCard e Diners. "Os negócios na área de mobile banking aumentaram 65%, em dois anos", justifica Luiz Antônio Rodrigues, diretor da área de canais eletrônicos do Itaú.

O banco tem 100 mil clientes no segmento e já oferecia pelo celular diversas transações, como pagamento de cartão de crédito e consulta de saldo - informação responsável por 42% das solicitações feitas pelos correntistas com um terminal móvel. Para Rodrigues, os principais desafios das instituições financeiras com essa nova onda de pagamentos são a multiplicidade de operadoras e tarifas, além da diversidade dos aparelhos.

O Itaú descobriu que 40% dos usuários usam modelos Motorola, 26% são donos de celulares Nokia e 10% têm equipamentos LG. "Quanto mais fácil for a tecnologia usada nos celulares, maior será a massificação dos serviços". As alianças com as bandeiras de cartões serão reforçadas. "Sempre estaremos ligados às empresas de crédito para popularizar o pagamento móvel", diz Rodrigues.

No HSBC, os correntistas podem usar o dispositivo, desde o final do ano passado, para fazer compras em cerca de 20 lojas virtuais, como Livraria Cultura e Americanas.com. Na prática, o aparelho funciona como um cartão de débito: a despesa é subtraída da conta do cliente.

"Na hora de decidir como vai fechar a compra no site, o usuário dá o número do celular, o banco liga para o cliente, que confirma o negócio e digita uma senha", detalha Arno Brandes, executivo de novas tecnologias do HSBC.

Para Brandes, a nova alternativa é positiva para o comerciante porque funciona como mais um canal de apoio às vendas e pode atrair novos consumidores. A garantia de recebimento pela transação é outro trunfo: acontece um dia após a venda virtual. "Mais de 70% dos boletos bancários impressos na internet não são pagos".

O HSBC já conquistou oito mil clientes nessa modalidade, desenvolvida em parceria com a empresa M-Cash, com uma média de 500 transações por mês. "O correntista pode definir o limite do valor das compras feitas pelo celular, até R$ 1 mil por dia." Brandes também não acredita que o uso do aparelho como meio de pagamento vai enterrar os cartões. "É como cartões e talões de cheques, que continuam andando juntos".

Já o Real conta com o Real Pagamento com Celular, em parceria com a Visanet. Oferece a facilidade para a cobrança de corridas de táxi em um ponto na região da Av.Paulista, em São Paulo, e em estabelecimentos comerciais dentro da PUC-Pontifícia Universidade Católica, também na capital paulista.

"É necessário haver uma massa crítica de usuários e estabelecimentos para espalhar a ação", diz Cláudio Almeida Prado, superintendente de TI do banco. O limite para compras é de R$ 150 por dia.

Na operadora Oi, os assinantes contam, desde fevereiro de 2006, com um recurso que dispensa os bancos e as empresas de cartão de crédito do fluxo de compras pelo celular. O serviço Oi Paggo, disponível nas cidades do Rio de Janeiro, Natal (RN) e Uberlândia (MG), permite fazer compras com o aparelho em uma rede de lojistas credenciados. O cliente e o lojista realizam a transação por SMS ou mensagens de texto, sem a necessidade de um POS. A despesa vem na conta do telefone.

A solução já laçou 115 mil usuários, sendo 39% de assinantes de celulares pós-pagos e 61% de pré-pagos. A rede de lojas conta com nove mil estabelecimentos, com 21% do total, a maioria, no setor de vestuário. Para resolver eventuais problemas de atraso nos envios de SMS, a operadora não descarta ter um servidor exclusivo para as transações financeiras.

"A partir de julho, vamos iniciar operações em 16 Estados da área de concessão da Oi", avisa Leonardo Caetano, gerente de projetos da operadora. A previsão é que até o final de 2007 sejam cadastrados 50 mil estabelecimentos comerciais, com uma adesão de 1,5 milhão de usuários.