Título: Em Porto Alegre, instituição dá lucro e planeja obter mais receita
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2007, Especial, p. A18

Investimentos com apoio de doações privadas, reformulação dos processos de gestão e o atendimento a planos de saúde e particulares permitiram à Santa Casa de Porto Alegre sair de uma situação pré-falimentar na década de 80 para ser exceção positiva no país. Especializada em procedimentos complexos, como transplantes de coração, pulmão, fígado e medula óssea, a instituição faz 65 mil consultas ambulatoriais, 5,5 mil cirurgias e 4,2 mil internações por mês e acumula, nos últimos quatro anos, superávit de R$ 26 milhões.

O diretor-administrativo, Júlio Dornelles de Matos, conta que 60% dos 1.079 mil leitos dos sete hospitais que compõem o complexo Santa Casa são destinados ao SUS, mas é o atendimento a convênios e particulares que garante a receita para cobrir a defasagem entre custos e remuneração dos serviços para o sistema público. "Em 1992 o Ministério da Saúde começou a reduzir os pagamentos, diminuindo as revisões das tabelas", explica.

Inaugurada em 1803, a instituição recebe do governo o equivalente a 67% dos gastos com tratamento de segurados do SUS. O índice supera os 55% observados na média dos 239 hospitais filantrópicos gaúchos, porque os procedimentos complexos têm cobertura "praticamente igual aos custos", diz Matos. Em 2006, a Santa Casa fez 56,7 mil cirurgias, incluindo 425 transplantes, sendo pouco mais da metade pelo SUS. Já os serviços de emergência, que pelo sistema público são "altamente deficitários", receberam 240,9 mil pacientes, dos quais 57% particulares ou vinculados a convênios.

No ano passado, conforme Matos, R$ 44,7 milhões da receita bruta de R$ 288,6 milhões foram utilizados para equilibrar a relação entre despesas e remuneração do SUS. O montante equivale a 40% do total arrecadado com os planos privados. O custeio do complexo é bancado apenas pelas receitas correntes. As doações são direcionadas para investimentos.

Os donativos crescem em campanhas de arrecadação com finalidade específica. Foi assim com a construção dos hospitais Dom Vicente Scherer, especializado em transplantes, e Santo Antônio (infantil). Inauguradas em 2001 e 2002, respectivamente, as unidades custaram R$ 38 milhões no total, originários do apoio de empresas como Gerdau, Ipiranga, grupo RBS, Azaléia e Copesul.

A recuperação da Santa Casa teve também apoio do Ministério da Previdência e do governo do Rio Grande do Sul. Em 1982, o Estado montou uma equipe técnica para ajudar a reestruturação administrativa e operacional da instituição. A partir daí até 1992, passando pela implantação do SUS, em 1988, a situação melhorou, mas quando as verbas federais começaram a minguar, a Santa Casa decidiu atender convênios e particulares e adotar conceitos de gestão de qualidade adaptados da indústria.

Apoiado pelo Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP), o trabalho levou à criação de unidades gerenciais com metas e indicadores de desempenho e à formulação de planejamentos estratégicos para cada cinco anos, revisados anualmente.

Agora, a instituição busca novas fontes de receitas para enfrentar o aumento da concorrência e dos custos operacionais. "Os hospitais que ficarem focados só no processo curativo não conseguirão se manter", prevê Matos. Um dos projetos, para 2008, prevê a venda de pacotes de treinamento sobre prevenção de problemas como obesidade, tabagismo e estresse em empresas.