Título: Reduzir dependência do SUS é a estratégia para tentar sobreviver
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2007, Especial, p. A18

A maneira mais eficiente que os hospitais filantrópicos estão descobrindo para sobreviver é depender o menos possível do Sistema Único de Saúde (SUS). Estão em melhor situação financeira as Santas Casas que conseguiram emplacar um plano de saúde próprio ou foram compradas por operadoras.

Fundada em 1953, a Santa Casa de Santos é a primeira da história do país. O hospital fechou as portas por quase um ano no fim dos anos 80, mas hoje é exemplo. Situada no litoral paulista, atende 17 municípios da região. "O plano de saúde próprio ajuda a manter a assistência ao SUS, já que toda a receita reverte para o hospital", diz Erimar Brehme, diretor-superintendente da instituição.

Atualmente, 67,5% dos atendimentos do hospital são pelo SUS, mas a remuneração obtida responde por apenas 20% do faturamento. Já o plano de saúde responde por 30% do atendimento, mas gera 60% do faturamento. O restante da receita é obtida com serviços funerários, doações e aluguel de imóveis do hospital.

Em 2006, a Santa Casa de Santos faturou R$ 130 milhões e teve superávit de R$ 250 mil. De acordo com Brehme, está no azul há cinco anos. "Mas a proposta não é sobrar dinheiro, é investir", diz. A Santa Casa de Santos gera 2,8 mil vagas diretas e 300 terceirizados - é o maior empregador da cidade.

"As Santas Casas que estão melhor financeiramente são as que fizeram planos de saúde próprios, recebem alguma doação, ou adaptaram a administração para gerenciar crises", diz Antônio Brito, presidente da Confederação Nacional das Santas Casas de Misericórdia. Segundo ele, 130 hospitais filantrópicos administram planos de saúde próprios, que atendem quase 2 milhões de pessoas.

É um número ainda muito pequeno em um universo de 1,9 mil instituições beneficentes, que possuem 2,1 mil hospitais. No passado, cerca de 300 Santas Casas tiveram planos de saúde próprios, mas após a regulamentação pela Agência Nacional de Saúde (ANS), muitos venderam suas carteiras.

Segundo Arlindo de Almeida, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Medicina de Grupo (Abrange), as Santas Casas oferecem planos regionais mais baratos e atendem uma faixa de preço intermediária, conquistando o paciente que não deseja depender do SUS, mas não tem poder aquisitivo para um convênio tradicional. Ele explica que, atualmente, trabalhar com as operadoras de saúde é fundamental para os hospitais, principalmente os privados com fins lucrativos, que obtêm 90% das receitas nesse segmento.

Outro caminho encontrado pelas Santas Casas é a parceria com os planos de saúde na administração. Algumas vezes esses hospitais acabam até sendo adquiridos pelas operadoras, que estão optando pela verticalização com investimento em hospitais próprios para controlar melhor seus custos.

No caso dos hospitais filantrópicos, a parceria natural acaba sendo com os médicos que trabalham no local por meio da Unimed, operadora formada por cooperativas de médicos. Existem 378 Unimeds espalhadas por 80% do território nacional. "Essa capilaridade facilita o relacionamento com as Santas Casas", diz Mohaman Akl, presidente da Central Nacional Unimed.

Segundo ele, ainda são poucos os casos em que ocorreram aquisições do espaço físico e dos equipamentos dos hospitais filantrópicos, pois os passivos trabalhistas acabam impedindo o negócio, já que a Justiça obriga o comprador a assumir a dívida. Akl explica que, às vezes, a Unimed assume a gestão ou a operação do plano de saúde da Santa Casa com a qual se associa. (RL)