Título: Petrobras amplia investimentos em exploração no Golfo do México
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2007, Empresas, p. B1

Operários contratados pela Petrobras começaram em junho a perfurar um poço gigantesco no fundo do Golfo do México. Seu objetivo é alcançar formações rochosas localizadas a 7 mil metros de profundidade e examinar tudo que aparecer no caminho. "Nunca alguém foi tão longe nessa parte do golfo", diz Jaime Bernardini, um dos engenheiros envolvidos no projeto.

A plataforma onde o grupo trabalha está a quilômetros de distância da costa dos Estados Unidos, num quadrante do golfo conhecido como North Padre Island. Do alto da estrutura é impossível avistar a terra. Outras empresas que pesquisaram blocos ali desistiram depois de cavar 5 mil metros embaixo da água sem achar nada. Daqui a dois meses será possível saber se os brasileiros terão mais sorte.

A Petrobras resolveu aumentar sua aposta no Golfo do México, uma região do planeta que há alguns anos provocava bocejos em muitos executivos da indústria do petróleo e recentemente voltou a despertar enorme interesse. O golfo se transformou numa peça-chave do projeto de expansão internacional da estatal brasileira, que neste ano vai completar duas décadas de atividade nos Estados Unidos.

A companhia adquiriu nos últimos anos direitos de exploração em 302 blocos na seção americana do golfo. Desde 2001, a Petrobras participou da descoberta de reservas de óleo e gás em cinco dessas áreas, em geral investindo em parceria com outras empresas. Alguns campos já estão em produção e a Petrobras controla sozinha um dos maiores, o de Cottonwood, que começou a produzir em fevereiro.

O orçamento da estatal prevê investimentos de US$ 4,5 bilhões nos EUA até 2011. Parte do dinheiro está reservada para a aquisição de novos blocos nos leilões que o governo americano realizará neste ano, em agosto e outubro. O quadro de pessoal da Petrobras no país triplicou no último ano e os escritórios da empresa vão se mudar em breve para um prédio mais espaçoso.

Essa movimentação ocorre num momento em que a companhia enfrenta dificuldades para continuar investindo em países como a Bolívia e a Venezuela, onde suas reservas são muito maiores do que as encontradas nos EUA até agora. Ela indica o interesse com que a Petrobras tem buscado oportunidades em lugares mais amistosos para investidores estrangeiros.

"A indústria de petróleo como um todo está saindo de regiões de grande potencial mas politicamente muito instáveis e tem preferido se concentrar nos países onde há mais estabilidade", diz o presidente da Petrobras America, Alberto Guimarães, que assumiu neste ano o comando da subsidiária nos EUA, após quatro anos à frente das operações da empresa na Argentina.

As reservas acumuladas pela Petrobras no golfo ainda são pequenas. Estimadas em 57 milhões de barris de petróleo, elas equivalem mais ou menos ao que a estatal produz na Bacia de Campos em 40 dias. Mas em breve elas devem dar um salto. Estimativas preliminares sugerem que campos descobertos recentemente contêm o equivalente a centenas de milhões de barris.

A empresa extrai atualmente o equivalente a 19 mil barris de óleo por dia no golfo. Com o desenvolvimento dos novos blocos, ela espera alcançar uma produção diária de 130 mil barris em 2013. A previsão não leva em conta novas descobertas que poderão ser feitas. "As possibilidades de crescimento da empresa são maiores aqui do que em outros países", diz Guimarães.

Há pouco mais de uma década, o desinteresse pelo Golfo do México era tão grande que muita gente na indústria começou a chamar a região de "Mar Morto". Os geólogos acreditavam que já tinham mapeado tudo que era possível achar ali. Existem vastos depósitos a explorar na seção mexicana do golfo, mas as leis do México impedem empresas estrangeiras de se aventurar ali.

O entusiasmo voltou por causa de dois fatores. Avanços nas tecnologias usadas pelos geólogos para estudar as formações rochosas onde os recursos minerais se escondem permitem que eles localizem hoje reservas onde antes não era possível enxergar nada. Isso custa caro, mas a disparada dos preços do petróleo nos últimos anos criou os incentivos que as empresas precisavam para investir na região.

"Todo mundo pensava que sabia tudo sobre o golfo, mas ele ainda oferece oportunidades fantásticas e se transformou num dos mercados mais competitivos do mundo", diz Renato Bertani, que presidiu a Petrobras America até o fim do ano passado e agora dirige uma consultoria em Houston, a Thompson & Knight Global Energy Services.

Não vai ser fácil lucrar com isso. As principais descobertas feitas nos últimos anos estão em grandes profundidades e regiões do golfo distantes das áreas em que os investimentos da indústria se concentraram até aqui. As condições geológicas desses blocos tornam a extração de petróleo e gás mais custosa e muito mais arriscada.

"Ainda existem dúvidas sobre a capacidade que a indústria terá de tornar a exploração desses reservatórios economicamente viável", afirma Julie Wilson, uma analista da consultoria Wood Mackenzie. As empresas sabem disso. Mas acreditam que, com o barril de petróleo cotado a mais de US$ 70 e nenhum sinal de que os preços cairão tão cedo, não vai faltar dinheiro para fazer os investimentos necessários.

A Wood Mackenzie calcula que as descobertas mais recentes no golfo permitirão acrescentar cerca de 2,4 bilhões de barris de óleo às reservas conhecidas no território americano, hoje em 29 bilhões de barris. A conta inclui três campos onde a Petrobras tem participação, Cascade, Chinook e Saint Malo, e blocos operados por gigantes como a Chevron, a BP e a Shell.

A Petrobras, que opera os campos de Cascade e Chinook e tem como parceiras nesses blocos a francesa Total e a americana Devon, pretende iniciar a produção nas duas áreas em 2009. Ela ainda está realizando estudos para avaliar com maior precisão a dimensão dos depósitos encontrados e por isso não divulga estimativas sobre eles.

O plano da Petrobras é explorar esses campos com um navio-plataforma como os que ela usa no Brasil, em vez de estruturas fixas. Se outra empresa não imitá-la antes, será a primeira vez que o sistema será adotado no golfo. Uma das vantagens que ele oferece é a possibilidade de rebocar a plataforma e resgatar os operários rapidamente se um furacão se aproximar, o que é comum acontecer nessa região.

A produção da Petrobras tem comprador garantido desde o ano passado, quando a empresa adquiriu metade das ações de uma refinaria em Pasadena, no Estado do Texas, onde é sócia de um grupo belga. As instalações têm capacidade para processar 100 mil barris de óleo por dia e há estudos em andamento para ampliar em 70% sua produção.

A companhia sonha em construir no futuro uma rede de postos de combustível com sua marca para explorar as vantagens oferecidas pelo maior mercado consumidor de derivados do petróleo do mundo. Mas por enquanto isso é apenas uma idéia. "Não existe nenhum plano em discussão, mas um dia vai acontecer", afirma Guimarães.