Título: Boeing enfrenta a Airbus com novo jato
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2007, Empresas, p. B7

Oito aeronaves - do barulhento 707 da irlandesa Omega Air, fruto do primeiro projeto da série 7, até a mais moderna e silenciosa versão do modelo 777 da Air France - desenharam no céu límpido do último sábado uma linha do tempo entre a pista de Paine, em Everett (Washington), e o Boeing Field, na vizinha Seattle. A reunião desses aviões foi uma espécie de retrospectiva da história de mais de 50 anos da Boeing no mercado de jatos comerciais. Serviu também para aumentar o grau de expectativa diante do 787 Dreamliner, aeronave para até 330 passageiros apresentada oficialmente ontem na fábrica da empresa em Everett, quatro anos depois de seu projeto ter sido anunciado.

Mais leve e econômico que seus concorrentes - segundo a Boeing consome 20% menos combustível em relação a aviões do mesmo porte -, o Dreamliner é considerado o maior sucesso de vendas da história da companhia. A carteira de pedidos já soma 677 unidades e a próxima posição vaga na linha de produção é em 2015. No ano passado, pela primeira vez em quase 10 anos, a empresa conseguiu passar a arquiinimiga européia Airbus em número de pedidos.

A estimativa da empresa é que o Dreamlinetr alcance vendas de 3,5 mil unidades em 20 anos, gerando uma receita de US$ 400 bilhões. Mesmo com a grande demanda, a empresa não prevê acelerar a linha de produção, afirmou Mike Bair, vice-presidente da Boeing Commercial Airplanes e diretor-geral do programa 787. "Vamos manter a programação de entregas em 112 unidades nos próximos dois anos", afirmou.

O período de testes de vôo do Dreamliner será de cerca de nove meses, um dos menores já observados. O vôo inaugural da aeronave está programado para ocorrer entre agosto e setembro deste ano, nove meses antes da entrega do primeiro exemplar, adquirido pela All Nippon Airlines com um pacote de 50 unidades . "É um tempo curto, mas nos planejamos para o sucesso dos testes". Nem o tempo que a Airbus terá para fazer melhorias antes do lançamento do A 350 (concorrente direto do 787), até 2013, parece assustar o executivo. Também vamos fazer melhorias ao longo do tempo, não ficaremos parados. O A 350 sairá do papel com cerca de cinco anos de atraso por causa de revisões severas em seu projeto. A carteira de pedidos da aeronave européia é de cerca de 120 unidades.

A Boeing penou para alcançar cifras tão grandes. O Dreamliner surge 13 anos após o último lançamento da companhia, o 777, uma aeronave para até 370 passageiros. Durante esse intervalo, a companhia digeriu a aquisição da rival McDonnel Douglas, fez mudanças em sua linha de montagem, viu o avanço da arquinimiga européia Airbus e amargou prejuízos a reboque da crise das companhias aéreas após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Ainda teve de abandonar o projeto de avião subsônico de até 250 lugares Sonic Cruiser, anunciado em 2001 logo após o anúncio do desenvolvimento do A380, o avião da Airbus para 550 pessoas. Os altos custos de operação - o grande consumo de combustível - tornaram inviável o projeto da companhia americana. As linhas aéreas deram claros sinais de preferir eficiência e baixos custos de manutenção à velocidade.

Não significa que o Sonic Cruiser tenha voltado para a gaveta. A maior parte das inovações tecnológicas do projeto, como a utilização de materiais compostos, as melhorias de conforto de passageiros, e a redução do consumo des combustível e de emissão de poluentes na atmosfera foram aproveitadas no desenvolvimento do Dreamliner, de acordo com Blake Emery, diretor de estratégia da companhia. "Ele é o verdadeiro Sonic Cruiser", afirmou.

Cerca de 50% dos materiais empregados no 787 são compostos, como as fibras de carbono da fuselagem, um material bem mais leve e mais resistente que o alumínio, material empregado em 50% das peças do 777. As lições do desenvolvimento do Sonic Cruiser contribuíram para baratear "substancialmente" o custo do projeto do Dreamliner em relação ao 777, segundo Bair. As cifras envolvidas no projeto, entretanto, são mantidas em sigilo. Segundo informações, atingem US$ 10 bilhões. Em termos de comparação, todo o projeto da a familia 190 da fabricante brasileira Embraer envolveu investimentos de US$ 1 bilhão.

Emery também afirmou que o desenvolvimento do Dreamliner tem como objetivo resgatar o romantismo das viagens transoceânicas, muito cansativas, devido ao aperto dentro da cabine sofrido pelo passageiro após ter enfrentado aeroportos cada vez mais congestionados. Portanto, acredita que itens de conforto como sistema de luz que simula o fuso horário do pais de destino, poltronas mais largas, janelas grandes e pé direito mais alto poderão tornar mais agradável a experiência de voar.

Segundo os executivos da Boeing, por ser de porte médio e de longo alcance, o Dreamliner poderá operar rotas ponto-a-ponto a partir de aeroportos menores o que poderá eliminar escalas e reduzir o tempo de viagem. A aposta da Boeing vai na contramão da Airbus, que coloca suas fichas no transporte maciço entre grandes aeroportos (hubs) e de lá alimentar as conexões para cidades menores, com o projeto do A 380.

A repórter viajou a convite da Boeing