Título: Solução para o BRB desafia DF
Autor: Ulhôa, Raquel e Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2007, Finanças, p. C1

O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, estuda junto com o Banco Central um novo modelo para o Banco de Brasília (BRB), instituição pública que recentemente teve a imagem arranhada por escândalos de corrupção. A preferência do BC é por privatizar, mas Arruda examina também outras alternativas. "Tenho três opções: deixar o BRB como está; fazer uma IPO (sigla em inglês que significa a abertura do capital, por meio de uma oferta pública de ações); ou privatizar. Não descarto nenhuma opção", afirmou Arruda ao Valor. Pouco depois, acrescentou: "Existe uma quarta opção: fusão com o Banco do Brasil".

O governador diz que sua preocupação é evitar a desvalorização do banco. "Banco comercial público tem data para acabar: 2011, por causa da conta-salário", disse, referindo-se à nova legislação que concede, no fim de 2011, liberdade para os funcionários públicos escolherem os bancos em que recebem o salário.

O BRB, diz Arruda, é um banco estável, equilibrado e que tem bom corpo de funcionários, mas, permanecendo como está, terá seu patrimônio desvalorizado. "Não existe banco comercial público sem conta-salário. A tendência é se desvalorizar." Será contratada uma empresa de consultoria para avaliar os ativos e as operações do banco, e suas conclusões serão usadas para subsidiar o modelo a ser adotado. Arruda disse que também está ouvindo propostas do mercado. O BRB é considerado um banco de pequeno porte, ocupando a 34ª posição do "ranking" do BC, pelo critério de ativos. Tem 58 agências, 184 postos de atendimento, 359 mil contas de depósito à vista, R$ 3,439 bilhões em ativos e R$ 2,65 bilhões em depósitos totais. Seu principal ativo é o pagamento de cerca de 150 mil funcionários do Distrito Federal.

Fontes que acompanham esse assunto afirmam que Arruda também tem o interesse de levantar recursos para investir em obras, a exemplo do que fizeram Estados que privatizaram ou abriram o capital de bancos. E haveria a vigilância do BC, que, embora não tenha encontrado até agora problemas relevantes nas operações do banco, está preocupado com a imagem da instituição depois dos vários escândalos. Recentemente o BC recomendou a profissionalização da administração. Arruda nomeou para a presidência Laércio Barros Júnior, funcionário há 18 anos no banco, que antes comandava a área de controle.

A privatização foi a linha adotada pelo BC na criação do Proes, o programa destinado a reduzir a presença do setor público no setor financeiro. Arruda dá indicações de que sua preferência é por uma abertura de capital na Bolsa, o que em tese permitiria ao mesmo tempo levantar recursos e manter o banco como um instrumento de políticas públicas.

A incorporação pelo BB é outra solução que, do ponto de vista financeiro, pode se mostrar vantajosa para o DF. Hoje, o BB negocia uma possível incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). O BB já aceitou fazer um pagamento ao Estado de Santa Catarina para manter a folha do funcionalismo no Besc. No caso do BRB, poderia ser feito um pagamento ao governo do DF não apenas pela folha do funcionalismo, mas também pelas ações do banco.

Uma fonte do BB informou que, embora não tenha até agora aberto negociações com Arruda, o banco teria grande interesse em analisar o assunto. A rede de agências do BRB tem alguma complementaridade com as do BB e, mesmo em alguns casos em que há sobreposição, poderia ajudar a desafogar pontos de atendimento do BB.

O BB está impedido de crescer por meio de fusões e aquisições, como fazem os bancos privados, e sua expansão estava restrita ao crescimento orgânico, ou seja, pela abertura de novas agências e atração de novos clientes. A operação com o Besc abriu uma nova frente de expansão que tende a se aprofundar no futuro, incluindo bancos estaduais remanescentes e os federais, como Basa e BNB.

Se abrir negociações, diz a fonte, uma preocupação central será com a solidez e a competitividade do BRB. A maior parte dos bancos estaduais, inclusive o Besc, passou por processos de reestruturação dentro das regras do Proes, que envolveu fechamento de agências deficitárias, programas de demissão voluntária, ajustes nos planos de pensão dos funcionários e rigoroso saneamento da carteira de crédito. Com situação financeira favorável na época do lançamento do Proes, o BRB foi o único que não recorreu ao programa.

Para o governo do DF, a incorporação do BRB pelo BB é tida como provável apenas se a abertura de capital e a privatização se mostrarem inviáveis ou pouco rentáveis. Ao contrário do governador de SC, Luiz Henrique (PMDB), que assumiu em palanque eleitoral o compromisso de não privatizar o Besc, Arruda não tem restrições ideológicas a soluções de mercado. Ele diz que, "numa economia de mercado, não é função do Estado ter banco comercial, a não ser que ele tenha função social ou de fomento". E, para isso, não há recursos, afirma o governador.

Recentemente, já na gestão de Arruda, o nome do BRB apareceu envolvido em três escândalos. No primeiro caso, o então presidente da instituição, Roberto Figueiredo, foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Navalha. Outro envolveu o ex-governador Joaquim Roriz, que renunciou ao mandato de senador (PMDB) na quarta-feira passada para escapar de processo por quebra de decoro que poderia levar à sua cassação. Em conversa telefônica gravada pela Polícia Civil do DF, na Operação Aquarela, Roriz aparece combinando com Tarcísio Franklin, ex-presidente do BRB, a partilha de R$ 2,2 milhões em dinheiro vivo. O Ministério Público do DF denunciou Tarcísio Franklin de Moura por irregularidades em quatro contratos de patrocínio, um deles com a equipe Universo de basquete, no valor de R$ 1,25 milhão.