Título: Controle seu risco
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2007, EU & Investimentos, p. D1

Muitos investidores estão arriscando seus primeiros passos no mercado de ações, entusiasmados com os ganhos obtidos nos últimos cinco anos - o Índice Bovespa, que reúne os papéis mais negociados, subiu mais de 25% só neste ano, para um juro de 6,19% do CDI no mesmo período. De janeiro a junho, 34.841 novos investidores fizeram ofertas por ações, via internet, no sistema home broker da Bovespa. Tanto apetite, porém, precisa ser moderado com alguns cuidados, o primeiro deles, a diversificação. Estudo da consultoria financeira Cyrnel International feito para o Valor mostra na prática como essa diversificação modifica o impacto de fortes oscilações do mercado.

A consultoria montou três carteiras hipotéticas, diferenciadas por seu grau de risco e no valor de R$ 30 mil, e simulou os efeitos de uma alta ou uma queda do Índice Bovespa de 10% - o chamado cenário de estresse. "A idéia foi mostrar que não basta jogar o dinheiro no mercado, é preciso uma estratégia de diversificação, e não é preciso ser profissional nem ter uma fortuna para fazer isso", explica Carlos Werneck, analista da Cyrnel responsável pelo estudo. Cada carteira incluiu papéis com graus de risco diferentes - calculados a partir do setor, da receita, do tamanho da empresa, do endividamento e de seu histórico de oscilação comparado ao do Ibovespa.

A primeira simulação colocou 70% dos recursos em renda fixa - LFTs (papéis pós-fixados) e NTN-Bs, que pagam IPCA mais juros - e 30% em três ações - Bradesco PN (preferencial, sem direito a voto), Petrobras PN e Vale do Rio Doce PNB. Com essa carteira, caso o Ibovespa caísse 10%, o investidor perderia 2,14% - mesmo percentual de ganho se o índice subisse 10%. O interessante, porém, é que o grau de risco da carteira, de 0,28 vezes o do Ibovespa, não é igual à soma do risco de cada papel, diz Werneck. Isso se deve à diversificação dos ativos. Grande parte do valor está em papéis menos voláteis, de renda fixa, e em ações que pertencem a diferentes setores da economia. Com isso, o investidor consegue um ganho extra sem aumentar demais a possibilidade de perdas.

Já na carteira apenas com ações de grau de risco moderado - substituindo as LFTs e NTN-Bs por Natura e Banco Itaú - o grau de risco total sobe para 1,18 vezes o risco do Ibovespa. Nesse caso, quando o índice cai 10%, a carteira perde 9,65% - ou ganha o mesmo percentual na simulação de alta. Mas, mesmo sendo maior que o da primeira carteira, o risco é menor que a soma dos de cada papel. Werneck dá o exemplo da Petrobras, o papel com menor risco da carteira: se os R$ 30 mil fossem aplicados apenas na estatal, o grau de risco seria maior, 1,72 vezes o Ibovespa.

Por fim, Werneck fez uma carteira de alto risco, concentrada em Petrobras e Vale e acrescentando opções. O resultado é que o grau de risco dispara, atingindo 7,48 vezes o do Ibovespa. Já o impacto de uma variação de 10% do Ibovespa também se multiplica: a carteira perde 43,22% ou ganha 66,62%.

"O risco total de uma carteira não é simplesmente a soma dos riscos de cada papel", diz Werneck, pois diversificação mitiga a possibilidade de perdas. Uma explosão de uma plataforma de petróleo teria pouco impacto para a Natura, ao passo que a queda do minério de ferro em nada afetaria a Petrobras, por exemplo.

Outra forma de reduzir o risco da carteira é usar o mercado de derivativos, no caso, o Ibovespa futuro. As perdas da carteira de risco médio, acrescentando-se uma operação de venda de índice futuro, cairiam de 9,65% para 2,36% - o mesmo ocorrendo com o ganho. Já o grau de risco baixaria, de 1,18 vezes o do Ibovespa para 0,82 vezes.

O ideal é que as pessoas usem a diversificação e observem também a sensibilidade dos papéis aos choques do Ibovespa, diz Werneck. Uma empresa pode ter baixo risco, mas forte correlação com o índice. Caso da Petrobras, que representa uma parcela grande do Ibovespa. Já a AmBev tem um risco elevado, mas não é tão ligada ao Ibovespa.